Em 23 de outubro, o agro brasileiro celebra uma das práticas mais importantes e transformadoras da agricultura moderna: o Dia Nacional do Plantio Direto. Criado para reforçar a importância da conservação do solo e da sustentabilidade na produção de alimentos, o sistema tem papel decisivo na eficiência produtiva do campo e na preservação dos recursos naturais.
O plantio direto é um sistema de cultivo em que o solo não é revolvido antes da semeadura, mantendo a palha e os resíduos vegetais da safra anterior sobre a superfície. Essa cobertura protege o solo contra a erosão, melhora a infiltração da água, reduz a emissão de carbono e aumenta a biodiversidade microbiana. A técnica — amplamente adotada no Brasil, com mais de 32 milhões de hectares cultivados sob esse sistema, segundo a Embrapa Solos — é considerada uma das principais aliadas da agricultura sustentável e da adaptação às mudanças climáticas.
A Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (FEBRAPDP), destaca que O Dia Nacional do Plantio Direto se tornou uma realidade após a sanção do vice-presidente Geraldo Alckmin, a Lei 14.609, de 20 de junho de 2023, oficializou o dia 23 de outubro como uma importante referência para a agricultura sustentável no Brasil. Subsidiam a promulgação os significativos préstimos que a Sistema Plantio Direto (SPD) vem, há 50 anos, gerando para a atividade agrícola brasileira. “Tecnicamente falando, o Plantio Direto lá no início tinha como principal objetivo não revolver mais o solo para combater a erosão, mas este evoluiu para o Sistema Plantio Direto que representa, além do não revolvimento do solo, a manutenção permanente de cobertura do solo e a rotação e diversificação de culturas, incluindo culturas de cobertura. Em termos de produção, significa economia de recursos e maiores eficácia e sustentabilidade produtiva”. Porém, há também aspectos não mensuráveis resultantes do uso continuado do sistema, dentre os quais estão a preservação de recursos naturais, como água e solo, e a busca por uma relação de maior respeito e equilíbrio ao meio ambiente que envolve e suporta os campos de produção. Benefícios que, do campo, produzem efeitos diretos nas cidades.
A ideia da criação do Dia Nacional do Plantio Direto surgiu em 2011, quando Ivo Mello, então presidente da Confederação das Associações Americanas para uma Agricultura Sustentável – CAAPAS, conselheiro da Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto – FEBRAPDP e membro do Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH, e Alfonso Sleutjes, à época presidente da FEBRAPDP, iam com muita frequência a Brasília representando o próprio SPD e a agricultura irrigada. “Numa dessas visitas, comentei que havia dias comemorativos para os mais diversos temas no Brasil e no Mundo, e como estávamos nos aproximando dos 50 anos do primeiro plantio direto no Brasil, então, por que não propor um dia nacional também para o Sistema Plantio Direto?”, relembra Mello, que, atualmente, segue como conselheiro da FEBRAPDP, e é também chefe do NATE/IRGA de Alegrete, RS.
À época o SPD já era nacional e mundialmente aceito como uma ferramenta fundamental para sustentabilidade do sistema de produção. Ciente desse contexto e relevância, a ideia foi bem acolhida pela diretoria da FEBRAPDP, que arregaçou as mangas e tratou de fazê-la andar. O primeiro passo foi buscar o deputado federal Afonso Hamm (PP-RS), engenheiro agrônomo, produtor rural e que, além de presidente da Associação dos Arrozeiros de Bagé, já estivera à frente do Clube do Plantio Direto de Arroz Irrigado – uma espécie de Clube Amigos da Terra (CAT) com a temática do arroz irrigado – durante a década de 1980; portanto, um usuário, conhecedor e entusiasta do SPD.
A proposição foi aceita prontamente pelo deputado, que colocou sua assessoria para trabalhar em conjunto com a FEBRAPDP. “Trabalhamos então uma proposta para formatá-la nos moldes dos projetos de lei que são encaminhados para apreciação no Congresso Nacional. Já na primeira proposta, tivemos uma negativa de alguém ligado a alguma comissão da Câmara Federal alegando que o SPD não teria importância para o país. Isso nos causou estranheza e a assessoria do deputado explicou que precisaríamos tornar mais robusta a argumentação. Nos debruçamos sobre este trabalho para dar a necessária densidade à proposta do projeto e, em 2015, Hamm submeteu novamente o projeto, que acabou passando pelas comissões e, depois de muitas idas e vindas, chegando a esse desfecho favorável”, conta ele.
Muito mais que o sistema em si, o 23 de outubro é uma data para celebrar o que ele representa para a agricultura e para o país. Mello explica tratar-se de um elemento essencial para que o Brasil alcançasse a consolidação de seu agronegócio no patamar que está hoje. Ele cita como exemplo o fato de atualmente ser possível realizar duas safras no Cerrado brasileiro porque o SPD permitiu isso. A chamada safrinha do milho que começou como uma “safrinha”, no diminutivo, se transformou na principal safra do milho do país e colocou o Brasil como uma das potências mundiais de exportação de milho.
“No início dos anos 2000, o modelo de agricultura brasileira baseado no Sistema Plantio Direto foi indicado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO como o modelo a ser seguido pelo mundo pela significativa importância no cuidado, na conservação do solo e sua vida e sendo possível de ser utilizado por todos os tamanhos de propriedades agrícolas, culturas agrícolas e sistemas integrados. Sendo chamado de Agricultura Conservacionista (Conservation Agriculture) pela FAO”, enfatiza Marie Bartz, bióloga e atua no Centro Municipal de Cultura e Desenvolvimento de Idanha-a-Nova e no Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, em Portugal, e é diretora secretária da FEBRAPDP.
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