A alta do custo de produção da soja para a safra 2021/2022, com variação anual de até 22%, deixou muitos produtores mato-grossenses preocupados. Mesmo sob um cenário de elevações puxadas, especialmente pela taxa de câmbio, há espaço para ganhos sim, aponta o diretor da Neo Agro Consultoria, Luciano Vacari.
De acordo com dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), o custo total nesta safra será de R$ 5.133,06 reais, incluindo o pró-labore, o custo de oportunidade do capital investido e também o custo de arrendamento, valores normalmente não contabilizados pelos produtores. A alta é de 22%, comparativamente à safra 2020/2021.
Ao considerar o custo operacional, sem custo de oportunidade, sem pró-labore e sem arrendamento, já que muitos produtores fazem em área própria, a safra 2021/22 registra um custo por hectare de R$ 3.742,02 reais. Este valor é 18% acima do observado em 2020/21, em R$ 3.177,58.
A alta dos custos é explicada por inúmeros fatores. Entre os insumos, as sementes registraram a maior alta, 40%. Na sequência, considerando a metodologia do Imea, denominada “fertilizantes e corretivos” houve alta de 24%. No entanto, deve-se ressaltar que quando o preço dos fertilizantes é analisado de maneira desagregada, como foi apresentado pela Neo Agro Consultoria, com base nos dados da Conab, houve alta de até 80%, a depender do insumo utilizado.
Vacari destaca que se for considerado apenas o custo operacional, sem fatores como pró-labore, o produtor precisa ter uma produtividade mínima de 25 sacas por hectares, considerando o cenário atual com a saca cotada em média a R$ 165 reais, patamares atuais. A perspectiva de produtividade para 2021/22, também de acordo com o Imea, é de 57 sacas.
Ao considerar custos que o produtor normalmente não conta, mas que deveriam sim entrar no custo de produção – como adverte o analista -, como o pró-labore, o arrendamento e, principalmente o custo de oportunidade do capital investido, é necessário produzir 31 sacas, a R$ 165 cada para a conta fechar. Na safra 2019/2020, considerando os preços médios de setembro, o produtor tinha que vender 52 sacas para pagar o custo total de produção.
Muitos produtores travaram seus preços de venda há meses. Enquanto outros ainda não e talvez venham a realizar a comercialização, a minoria, mais perto da colheita. Por isso, o valor atual é apenas uma referência.
“Ainda assim, considerando apenas custos operacionais ou custos totais, os bons preços da soja, que vêm subindo há duas safras, têm compensado a alta significativa dos custos. O preço médio de setembro deste ano está 22% acima do que foi em 2020 e mais do que duas vezes o que era em 2019. A incerteza agora é o clima”, afirma Vacari.
Em setembro de 2019, a saca era comercializada a R$ 74,58, em média, e em setembro de 2020 este valor já era R$ 135,09, alta de 81%.
FOCO NO CLIMA – Segundo o diretor, há algumas semanas os produtores começaram a ficar preocupados com o La Nina. “Este fenômeno poderia reduzir as chuvas em um período muito estratégico da produção. Porém, na semana passada, as perspectivas do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) demonstraram que o fenômeno deve ser pouco intensivo e de curta duração, ainda que exista uma probabilidade de ocorrência de 70%”.
Para o INMET, espera-se que o volume de chuvas para o quarto trimestre no Centro-Oeste chegue, inclusive, a superar a média histórica. Porém, o Sul do País, São Paulo e Mato Grosso do Sul podem ter médias inferiores.
“A produção agropecuária é muito sazonal. Normalmente, quando os preços sobem, no ano seguinte aumenta a produção. Além da incerteza do clima e da volatilidade cambial, a última perspectiva da Conab aponta para um aumento de quase 4% na produção de soja. O produtor deve ficar atento”, afirma Vacari.
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