A cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) é uma das pragas que mais causam preocupação aos produtores de todo o Brasil. Em Mato Grosso, é um problema presente na maior parte das regiões produtoras de milho, e, nesta segunda safra, as lavouras apresentam alta população do inseto. Incidência essa observada desde a emergência das plantas, principalmente na região médio norte do Estado.
Segundo a pesquisadora e doutora em entomologia da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), Lucia Vivan, as aplicações foram realizadas, mas a população se manteve na área.
A presença de fumagina também está sendo observada, mas, por outro lado, a ocorrência dos enfezamentos é inferior com relação à safra 2020/21, de acordo com a especialista. “Isso pode ser devido ao controle mais adequado feito pelos produtores e também pelo uso de híbridos tolerantes ao complexo de enfezamento. No entanto, é importante continuar acompanhando as áreas que estão no estágio reprodutivo, pois os sintomas podem ocorrer mais tardiamente”, destaca Lucia.
A pesquisadora lembra que nos plantios de primeira safra, a população foi maior a partir do final do mês de outubro de 2021, cresceu e se manteve na área. E os sintomas de enfezamento foram praticamente nulos ou não se expressaram, pois o ataque da praga ocorreu em períodos mais avançados de desenvolvimento e foram realizadas aplicações para o alvo.
Entender a dinâmica da população de cigarrinhas infectivas dentro do sistema produtivo é hoje o maior desafio para o produtor de milho. A entomologista explica que o inseto pode se abrigar em áreas de gramíneas, pastagens, sobreviver em milhos tigueras, mantendo, assim, a população para as áreas semeadas com milho. Além disso, o controle efetivo também é desafiador em função do comportamento do inseto, que se movimenta bastante entre as áreas, podendo se dispersar a longas distâncias. “Deslocam em revoadas e, dessa forma, ocorre dispersão da população em longas distâncias”, explica a pesquisadora.
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AVANÇOS DA PESQUISA – Na safra 2021/22, a Fundação MT iniciou trabalhos de acompanhamento da população em área de milho desde a primeira safra, com continuidade nos plantios da segunda safra. O objetivo deste trabalho foi identificar o início da colonização pela cigarrinha e como a população se mantém nas áreas com milho na sequência, bem como entender o complexo de enfezamento ao longo do tempo. Além disso, a Fundação MT desenvolve trabalhos com controle químico e biológico, avaliando a mortalidade e eficiência dos produtos, e também a proteção em relação ao complexo de enfezamentos.
As avaliações de diferentes híbridos de milho, em relação à tolerância ao complexo de enfezamento em várias regiões de Mato Grosso, completam os trabalhos em torno da cigarrinha. Um dos ensaios está instalado no Centro de Aprendizagem e Difusão (CAD) Médio Norte, área de pesquisa da instituição em Sorriso.
Felipe Araújo, pesquisador da Fundação MT, pontua que com o experimento, é possível avaliar quais híbridos apresentam melhor desempenho nas condições onde estão, e a resposta quanto ao complexo de enfezamento. “Buscamos uma resposta mais próxima ao que o produtor precisa, uma métrica de severidade sobre a produtividade, ou seja, quanto cada material perde em potencial produtivo para o complexo de enfezamento e não somente quantas plantas têm apresentado sintomas de uma ou outra doença”, explica.
Na safra passada, as avaliações desse ensaio indicaram níveis de redução de produtividade de 1% com o material mais tolerante, para 17% com o material mais sensível. De acordo com o pesquisador, esses dados podem variar com o momento da entrada da população de cigarrinhas infectivas no talhão, bem como com a pressão da população. “Respostas como essas são passíveis de mais estudos para entender se existe a repetibilidade dos dados, mesmo em condições diferentes de exposição desses materiais ao complexo de enfezamentos”, conclui.
MANEJO NECESSÁRIO – O manejo para a cigarrinha é composto de várias ferramentas que devem ser realizadas em conjunto, como: destruição de plantas tigueras de milho, boa colheita de áreas de milho – a fim de evitar sementeira – tratamento de sementes, uso de produtos químicos e biológicos desde o início do desenvolvimento da cultura e manter aplicações até os estádios V8-V10. Além dessas ferramentas, aplicações em bordaduras também podem ser uma estratégia, devido ao deslocamento do inseto de outras áreas.
Já como medidas culturais, os especialistas indicam evitar plantios tardios, evitar escalonamento de plantio em áreas próximas, ter uma janela de plantio mais concentrada, rotação de culturas, não fazer plantio de milho em áreas com altas populações de cigarrinha e incidência do complexo de enfezamento, uso de híbridos tolerantes ao complexo de enfezamento e realizar o monitoramento constante na área.
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