Normando Corral, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), concedeu entrevista ao MT Econômico, onde foi abordado os principais desafios à frente da entidade durante seus dois mandatos e suas perspectivas para o futuro na carreira.
Normando Corral é natural de Tupã, São Paulo e formando em agronomia. Em 1982 se mudou para Mato Grosso e logo foi para Tangará da Serra, onde começou a trabalhar com pecuária. Exerceu também o cargo de presidente da Famato por duas vezes consecutivas, somando um total de 6 anos. Atua também com produção de cana e se atraiu pelo sistema sindical percorrendo uma trajetória até chegar à presidência da federação do agronegócio mato-grossense.
“O sistema sindical me atraiu pelo potencial que ele tem de oferecer para os nossos produtores, principalmente conhecimento e proteção”, afirma Normando, ao explicar o motivo de ter ingressado na área sindical do setor.
O atual presidente da Famato deixará o cargo no final de dezembro de 2022 para o seu sucessor, eleito este ano, Vilmondes Sebastião Tomain irá tomar posse a partir de 2023, no triênio 2023/2025.
A entrevista com Normando Corral foi realizada no estúdio do MT Econômico, onde preparamos uma matéria especial com os principais pontos que foram debatidos.
Dificuldades enfrentadas
MT Econômico: Nessas duas gestões que foram realizadas no decorrer dos seis anos do seu mandato na presidência da Famato, qual foi o assunto mais contundente, o entrave político que precisou ser superado com muito esforço e união da classe?
Normando Corral: tivemos a questão do Funrural, que foi bastante debatida e complicada para os nossos produtores. No governo anterior e nesse, houve também uma discussão muito grande com relação ao Fethab, já que sempre reclamamos de infraestrutura, teve também o fim da contribuição sindical. Mas o maior problema que tivemos nesse período, foi a pandemia e a questão política atual [vitória do Lula].
MT Econômico: o senhor falou do Fethab, onde na gestão anterior, vocês buscaram reivindicar mais investimentos em infraestrutura e agora, na Assembleia Legislativa está tramitando algumas mudanças. Isso deve ser favorável ou não para o setor de vocês, de acordo com a proposta do atual governo?
Normando Corral: aumento de imposto nunca é favorável para ninguém. O imposto mais caro que existe é aquele que não é bem utilizado para o fim que ele foi criado, então isso é um problema. Nós já vimos os serviços do Fethab aqui, por um tempo, sendo mal utilizados. Agora é o seguinte, não pode pegar de um só setor. Nós sabemos que o setor agropecuário tem grande importância no PIB de Mato Grosso, mas sempre temos um problema, não colocamos valor no produto que produzimos, como o comércio ou a indústria. Quando vamos vender qualquer coisa é “quanto vocês nos pagam?”, quando vamos comprar é “quanto custa?” Então, se não conseguimos colocar valor no produto que trabalhamos, não fazemos o mercado, mas sim, o seguimos e às vezes, isso é incompatível com o valor da produção. Temos momentos bons e ruins e se resolve taxar baseado nos momentos bons, acaba por perder competitividade e o negócio vai mal.
O estado de Mato Grosso hoje tem o maior valor bruto de produção agropecuária, aproximadamente 200 bilhões de reais [R$ 227,3 bi, de acordo com o governo do Estado]. O segundo maior Estado é o de São Paulo, com 160 bilhões de reais, costumava ser o primeiro. Entretanto, esses R$ 200 bi representa cerca de 56% do PIB do Estado de MT e os R$ 160 bi de SP, representa apenas 18%. Ou seja, se lá der uma crise no setor agropecuário, o Estado não vai sofrer tanto, já que tem o comércio, a indústria, meios de serviço, dá para diversificar. Já aqui em Mato Grosso, até mesmo pela vocação do Estado e sua extensão territorial, pela regularidade de clima, somos grandes produtores e com capacidade de aumentar ainda mais [a produção]. Temos que pensar em mais coisas, talvez agroindústrias, que é muito bom.
MT Econômico: essa atração de indústrias aumenta a arrecadação, o ‘impostômetro’ de Mato Grosso marcou recorde de 40 bilhões até o momento (primeira quinzena de dezembro), cerca de 11% a mais do que o mesmo período do ano anterior. Sabemos que isso é uma somatória de vários setores, comércio, indústria, agronegócio, mas sabemos que o agro tem uma contribuição muito grande, principalmente por impulsionar o desenvolvimento econômico ou seja, é um setor que contribui muito, certo?
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Normando Corral: o agro é uma atividade primária, então ela é geradora de todas as outras, serviços, comércio e até mesmo as indústrias, mesmo que elas não estejam localizadas no Estado. A maioria do movimento de hotéis, especialmente aqui em Cuiabá, são fomentados pelo agronegócio. Temos uma excelente estrutura física do agronegócio no Estado e temos que ir melhorando de acordo com o mercado. A China por exemplo, tem 50% da sua capacidade ociosa e eles querem comprar commodities da gente.
Perspectivas do mercado agropecuário
MT Econômico: o Imea publicou recentemente as perspectivas de mercado em relação ao agronegócio. O que vocês enxergam para os próximos anos?
Normando Corral: O Imea tem uma credibilidade e uma capacidade bem reconhecida. Há uma perspectiva otimista do que pode acontecer. Lá na Índia e na China por exemplo, há um aumento de população e renda e consequentemente, um aumento na demanda de alimentos. Algumas coisas no mundo podem atrapalhar, a própria pandemia, essa guerra entre a Ucrânia e Rússia que não acaba, o mercado interno, tudo isso gera preocupações e nos faz ficar atentos, não sabemos o que pode acontecer, a três anos atrás, ninguém sabia da covid. Então, embora as perspectivas sejam positivas, é importante manter certa cautela.
Aflições políticas
MT Econômico: por falar em preocupações, o setor do agro como um todo, demonstra um certo receio com a nova gestão presidencial, o Lula. Muitos estão preocupados com invasões de terras, tentando criar mecanismos para se proteger desse tipo de situação. Como é a sua visão em relação a isso?
Normando Corral: a nossa visão na classe não é comum, nem todos tem a mesma opinião. Aqui no estado de Mato Grosso mesmo, muitos dos produtores apoiaram a candidatura do Jair Bolsonaro e alguns apoiaram a candidatura do Lula. Mas a nossa preocupação principal é que venha o MST de novo, com a sua forma de agir, que normalmente é fora da lei né, então isso é uma preocupação. Mas enquanto isso, estamos conversando entre nós, mas também com as autoridades, teremos que ver ainda, como vai ser. Minha principal preocupação é a economia que é mais difícil de resolver do que uma invasão de terra.
MT Econômico: e como está a representatividade do agro em Brasília? Há pouco tempo, várias entidades do setor emitiram nota à imprensa, dizendo que algumas lideranças políticas, até com cargo de senador, como Carlos Fávaro, não representa o agro mato-grossense. Vocês imaginam outra forma de representação, um diálogo ou estreitamento?
Normando Corral: Sempre diálogo, não tem guerra! Bom, alguns pontos importantes, se essas pessoas estão no parlamento, elas representam o Estado no papel em que desempenham. No exemplo do senador, claro que ele representa Mato Grosso no parlamento de Brasília, mas temos outras formas como a CNA, que é a confederação e atua fortemente na questão política também. O IPA, Instituto Pensar Agropecuária, responsável por levar nossas pautas para a Frente Parlamentar da Agropecuária, a FPA, que também é representante do setor em Brasília.
Próximos passos na carreira
Normando contou de forma exclusiva ao MT Econômico que não pensa em retornar para a diretoria da Famato. Porém, ele está disposto a auxiliar a atual diretoria, caso o solicitem, mas daqui pra frente, serão ‘novos ares’. Especialmente porque o agrônomo já tem planos de ingressar na fundação de fornecedores de cana-de-açúcar, em Tangará da Serra.
Veja a entrevista completa no vídeo abaixo