A Acomac de Mato Grosso projeta aumento nas vendas de material de construção para o final deste ano e a partir de 2023, com a melhoria da economia e redução da taxa de juros que deve melhorar a obtenção de crédito pelos consumidores.
O MT Econômico conversou com Fabio Sbeghen, presidente da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção de Mato Grosso (Acomac/MT) para falarmos um pouco mais sobre o setor, que é tão importante na geração de empregos, movimentação da economia e realização de sonhos e necessidades.
Abordamos como está o setor de material de construção desde a época da pandemia até o momento atual, de recuperação econômica que o país se encontra.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista. No final da matéria você também pode ouvir o áudio com a entrevista completa.
MT Econômico: Vamos começar falando um pouco sobre a retrospectiva da pandemia. Voltando para 2020/21, onde diversos materiais de construção tiveram uma elevação acentuada de custos, decorrentes principalmente da escassez de produtos no mercado. Isso afetou Mato Grosso, mas também, atingiu o Brasil e o mundo todo. Como foi o impacto local em Cuiabá e em nosso Estado?
Fabio Sbeghen – Acomac: De fato, a gente viveu um momento complicado em relação à dificuldade de disponibilizarmos materiais [de construção] para a compra dos consumidores, em 2020/21. Por conta da pandemia, muitas indústrias que estão em sua maioria no Sul e no Sudeste tiveram que fechar as portas, mas boa parte das lojas de material de construção ficaram abertas e isso fez com que a demanda desses produtos aumentasse.
Como o consumidor permaneceu mais dentro de casa [por conta do lockdown], quem estava trabalhando [em home-office] precisou fazer alguma adequação. Ou até mesmo começou a perceber aquela situação de uma parede que precisava ser pintada, um piso que precisava ser trocado, uma luminária que tinha que ser revista ali […] E como as pessoas não podiam viajar, isso fez com que ficassem mais tempo nos lares, percebendo que havia uma necessidade de reforma, assim, aumentado a procura de material de construção.
MT Econômico: Chegou a faltar materiais básicos, como cimento, tinta…?
Fabio Sbeghen – Acomac: Sim, sim. Realmente, a gente teve uma dificuldade porque como eu te falei, as indústrias não conseguiam produzir ou reduziram muito a sua produção, e isso fez com que faltasse material. Então, realmente, faltaram alguns produtos pontuais e, por conta dessa situação toda, as indústrias aumentaram os preços, devido a demanda e logicamente, o nosso setor é mero repassador de preço. Portanto, nós tivemos que aumentar o valor final para o consumidor.
MT Econômico: Você falou uma coisa interessante. Com a pandemia e as pessoas sendo incentivadas a manterem o distanciamento social, aumentou a necessidade do home-office, fazendo com que elas fossem atrás dos materiais de construção e muitas vezes, não encontraram, é isso?
Fabio Sbeghen – Acomac: Na verdade, às vezes as pessoas não encontravam aquilo que queriam. Então, talvez tinham que fazer uma adaptação ou aguardar um pouco mais para receber o seu material. Mas no fim, conseguiam ser atendidos. Entretanto, houve sim, esse delay em relação à entrega do produto e a disponibilização dos materiais nas gôndolas.
MT Econômico: Isso deve ter afetado também o setor das construtoras, certo? Quem constrói prédios, casas e condomínios, deve ter tido bastante dificuldade para adquirir os materiais, não é mesmo?
Fabio Sbeghen – Acomac: Sim, da mesma forma que o comércio de material de construção sofreu, a indústria da construção é a mesma. Então, assim como nós fomos afetados, também faltou material para as construtoras.
MT Econômico: As construtoras reclamam bastante da questão de mão de obra, que é outro fator que ‘encareceu’ após a pandemia. Além disso, tem a questão da escassez de profissionais qualificados no mercado. No setor de material de construção, nas lojas, também existe esse problema?
Fabio Sbeghen – Acomac: Isso é algo recorrente. Porque, com o aumento das vendas, naturalmente a gente precisou ir ao mercado e fazer novas contratações. Tanto na parte de frente da loja, como atendimento ao cliente, e principalmente, na parte de logística, em especial nas entregas de materiais. Então, muitas lojas tiveram que aumentar o seu quadro de funcionários, fazer aquisição de veículos para complementar as entregas e isso tudo, em uma quantidade pequena de mão de obra disponível no mercado. Mato Grosso hoje, tem uma grande necessidade em todos os setores, principalmente na construção civil e nas lojas de materiais para construção. Temos aí uma lacuna muito grande e isso faz com que nós, como associação (Acomac), também recorra a algumas ferramentas para podermos qualificar lá na ponta o entregador, a parte de RH, o setor de compras e o atendimento.
MT Econômico: A Acomac tem algum projeto para qualificar esses profissionais? E se tem, como funciona na prática? Vocês fazem esse treinamento na empresa ou em algum lugar combinado, como um auditório, por exemplo?
Fabio Sbeghen – Acomac: A Acomac representa todos os comerciantes de material de construção espalhados no Estado todo. Então, temos lojistas tanto em Guarantã do Norte, como em Barra do Garças e outras cidades. Temos que atender a totalidade. Onde têm polos [de associados], conseguimos levar treinamentos até lá. No primeiro semestre do ano, focamos na necessidade maior que era o treinamento da área de vendas, dessa forma, levamos em polos específicos [de Mato Grosso], cursos relacionados a vendas para poder dar uma melhoria para o associado e um atendimento de mais qualidade para o consumidor. Agora, nesse semestre, estamos com cursos mais abrangentes. Fizemos uma parceria muito boa com o Senac e hoje, eles entregam cursos na faixa de 15 a 30 horas, que vão desde a parte de logística, compras, formação de preço de um produto, até a qualificação do vendedor. Isso é muito importante. Conseguimos fazer de forma gratuita, através dessa parceria com o Senac, onde os professores vão ministrar os cursos e o comerciante que é associado da Acomac terá gratuidade nesse treinamento.
MT Econômico: Dessa forma conseguiu pulverizar mais a capacitação pelo Estado, né? Já que Mato Grosso tem dimensões territoriais enormes.
Fabio Sbeghen – Acomac: Como a Acomac atende todo o Estado, temos por obrigação levar tudo o que conseguirmos de benefícios que atendam a capital e todo Mato Grosso.
MT Econômico: Agora falando um pouco sobre obras. Mais cedo, estávamos vendo dados da construção civil aqui no Estado, que é um setor tão representativo quanto ao setor de alimentos. Andando na cidade, é possível ver que muitas construções acontecem na capital, mas também no interior, sejam obras novas ou reformas. Como é o processo de aprovação junto ao poder público? É burocrático ou melhorou?
Fabio Sbeghen – Acomac: Tivemos uma evolução muito grande nos processos de obras com a prefeitura de Cuiabá. Agora. Podemos pegar essa melhoria e espelhar para as prefeituras do restante do Estado, àquelas que conseguirem se adequar. O que batalhamos por um bom tempo foi o alvará automático. Antigamente quando a pessoa ia dar entrada no projeto de uma obra, era necessário realizar esse processo manualmente e esperar com que o analista autorizasse o projeto, e aí sim, era possível iniciar a obra. Isso demorava dias…
MT Econômico: Ou seja, ia para a ‘pastinha’ junto com um monte de processos?
Fabio Sbeghen – Acomac: Exatamente! Hoje, não mais. Em 48 horas, a pessoa consegue o alvará. Agora, obras residenciais de até 700 m² e obras comerciais até 500 m², você consegue dar entrada no seu projeto de forma eletrônica. Em dois dias você tem o seu alvará para dar início na sua obra e isso, para quem vende material de construção e até mesmo para o consumidor final é muito interessante, já que facilita as ‘duas pontas’. A pessoa consegue dar o start na obra e depois, no decorrer, já é possível ter o projeto analisado e deferido junto à prefeitura. É um ganho muito grande, já que haviam diversas reclamações dos clientes que queriam iniciar suas obras e tinham que esperar toda a documentação ser analisada. Hoje, já não temos mais essa demora, o processo está muito mais rápido e isso movimenta a economia.
MT Econômico: Falando em economia, o consumidor é quem dá toda essa pujança para o setor, né? Eu vejo muitas promoções pontuais em algumas lojas de material de construção aqui em Cuiabá e no interior. A Acomac tem alguma coisa nesse sentido, ou essas promoções ficam por conta do comerciante? Como funciona?
Fabio Sbeghen – Acomac: Cada loja tem o seu marketing e a sua publicidade, mas a Acomac tem por obrigação fomentar o setor de material de construção. Então, estamos vindo nos próximos meses de outubro e novembro, com uma grande premiação que intitulamos como ‘Caminhão de Prêmios’. Vamos atender por todo Estado as lojas associadas. O consumidor a cada 300 reais em compras vai conseguir acessar um aplicativo, que será disponibilizado para cadastrar a nota fiscal e concorrer a mais de 100 mil reais em prêmios. Todas as lojas associadas estarão participando desta promoção. É bom que os consumidores procurem essas lojas e façam a adesão ao aplicativo para poderem concorrer.
MT Econômico: Tendo alguma dúvida, o consumidor se informa nas lojas ou na Acomac? Como baixar esse aplicativo, como participar da promoção…?
Fabio Sbeghen – Acomac: Está sendo feito um treinamento tanto para os vendedores quanto para o backstage da nossa Associação, para que seja realizado todo o suporte ao cliente na hora da efetivação da nota fiscal para virar um cupom de premiação. Nessa campanha, também premiaremos vendedores das lojas, isso vai aumentar o comprometimento, além de agregar aos clientes.
MT Econômico: Quais são as expectativas para o futuro, não só neste fim de ano com essa promoção, mas também, de 2023 em diante. Vocês acham que a pior fase da pandemia passou ou os juros altos do mercado podem prejudicar o crédito? A Acomac espera que isso melhore quando. Qual a projeção do setor?
Fabio Sbeghen – Acomac: Eu acredito que para 2023, independente do cenário político, a gente venha com uma redução na taxa Selic, isso é extremante necessário. O setor de material de construção é fortemente dependente de financiamentos, porque a pessoa faz a aquisição do imóvel e isso está atrelado a um crédito. Eu acredito que a redução da taxa Selic será de forma gradativa, e as vendas devem ir aumentando com a queda dos juros. Em relação à Covid, eu acho que vencemos isso, estamos em uma situação confortável, ‘tá’ todo mundo praticamente livre das máscaras, voltou ao normal.
Entrevista Especial MT Econômico: Alessandro Torres com entrevistado Fabio Sbeghen, presidente da Acomac/MT. Texto Isadora Sousa sob supervisão e edição de Alessandro Torres
OUÇA O ÁUDIO COMPLETO DA ENTREVISTA ABAIXO
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