No Brasil de 2022, duas forças antagônicas mexem com a nossa economia. De um lado, o Banco Central usa a taxa básica de juros para deixar a política monetária mais apertada e desacelerar a inflação.
Do outro, a corrida eleitoral estimula o governo a liberar dinheiro para conquistar votos, numa política fiscal expansionista – e inflacionária. Nas palavras de Rodrigo Azevedo, sócio da Ibiuna Investimentos e ex-diretor do Banco Central, a situação atual do Brasil é “esquizofrênica”. “Temos alguém pisando no freio e alguém pisando no acelerador”, afirmou Azevedo.
E deve permanecer assim, pelo menos enquanto houver incerteza provocada pelas eleições. Mas isso não está ligado diretamente a Lula ou Bolsonaro, os líderes das pesquisas de intenção de voto para presidente.
Para Azevedo, nenhum dos candidatos hoje tem incentivo para falar em ajustes fiscais nos seus respectivos governos. Portanto, paira sobre o mercado a incerteza com o regime fiscal do próximo governo. “Essa incerteza não vai se dissipar, pelo menos até outubro. É um desincentivo grande tomar posições nesse momento”, afirmou Azevedo.
Apesar disso, o sócio da Ibiuna ressalta que os juros no Brasil devem subir mais um pouco a fim de controlar a inflação.
Azevedo lembra que o Brasil tem uma “memória inflacionária” muito alta, que força nosso Banco Central a subir os juros antes da maioria dos países ao menor sinal de alta de preços.
A explicação é que no Brasil existe uma idiossincrasia, que são os mecanismos formais e informais de indexação à inflação passada. Isso significa que desde contratos de aluguel até o teto de gastos são ajustados pela inflação. Por consequência, a primeira demanda salarial dos trabalhadores é a reposição da perda inflacionária.
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Dessa forma, o que poderia ser um choque temporário de, por exemplo, aumento dos combustíveis, torna-se mais perene por conta do ajuste automático.
“O resultado básico é que o Banco Central tem que atuar mais cedo e de maneira mais forte do que teria numa economia que não tem isso [ajuste automático]”, disse Azevedo.
APOSTA NA ALTA DE JUROS NO EXTERIOR – Se a assimetria estimulou os gestores do Ibiuna STH a ficarem tomados em juros (apostando na alta das taxas) de países emergentes em 2021, neste ano a fotografia mudou.
Em 2022, Azevedo avaliou que os emergentes já haviam subido demais os juros, mas um conjunto de países ainda continuava com as políticas monetárias frouxas: os desenvolvidos.
Assim, a estratégia basicamente mudou para pegar a provável alta dos juros nos Estados Unidos e na Europa. “O que a gente não imaginava é que teria uma guerra entre Ucrânia e Rússia que exacerbaria as tendências inflacionárias de maneira impensável”, detalhou Azevedo.
Ele avalia que a inflação no mundo desenvolvido deve estar atingindo o pico neste momento. “Mas a gente acha que, na hora que ela começar a cair, provavelmente vai cair mais devagar e vai se estabilizar num patamar mais alto do que o consenso de mercado acredita neste momento”, disse.
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