Nova edição do relatório What to Watch, Allianz Research, publicada ontem (26), com foco nas implicações econômicas do recente confronto entre Israel e Irã, mostra que, embora o cessar-fogo intermediado pelos Estados Unidos tenha acalmado momentaneamente os mercados de energia, os riscos geopolíticos permanecem elevados, com impactos potenciais sobre o crescimento, a inflação e o comércio global.
A trégua temporária reduziu os temores de fechamento do estratégico Estreito de Ormuz, rota por onde transitam cerca de 20% do petróleo mundial. Como resultado, o preço do petróleo caiu de quase USD 80 para abaixo de USD 70/barril, mais de 10%. O gás natural recuou 12%. Ao mesmo tempo, bolsas globais reagiram com otimismo: o índice S&P500 avançou mais de 2% e o Stoxx Europe 600, 1,5%. O índice TA-35 de Israel está agora 5% acima do nível pré-guerra, e o shekel israelense valorizou 2,5%.
TRÊS CENÁRIOS PARA OS PRÓXIMOS MESES – Os economistas projetam três possíveis cenários a partir da atual conjuntura:
Cenário-base (65% de probabilidade): Conflito militar contido com cessar-fogo intermitente, semelhante ao período de 13 a 23 de junho. Embora o cessar-fogo tenha reduzido as tensões na região, não está claro como será o acordo a longo prazo, e se Tel Aviv e Teerã o cumprirão. Logo após o anúncio do cessar-fogo, Israel anunciou novas retaliações, acusando o Irã de violar o acordo. Nesse cenário, o PIB da Zona do Euro cresceria +1,2% em 2025, o dos EUA +1,6%, e o petróleo se manteria em torno de USD 68/barril.
Cenário otimista (20%): Com um acordo regional amplo, o PIB aumentaria em 0,1 ponto percentual em ambas as regiões, e a inflação cairia 0,1pp, devido à queda limitada nos preços do petróleo. A projeção é de que os preços do petróleo bruto cairiam 3%, para USD 66/barril em 2025 e USD 64/barril em 2026, indicando que os preços atuais já estão próximos do piso. Esse cenário também levaria a uma queda de cerca de 10% no preço do gás natural, reduzindo-o de EUR 37 para EUR 34 em 2025, e para EUR 32 no cenário subsequente – o que seria benéfico para a indústria e os consumidores europeus.
Cenário pessimista (10%): O cenário negativo traria riscos bem maiores para a economia global, com o preço do petróleo podendo subir 60%, chegando a USD 120/barril em 2025 e a USD 90/barril em 2026. Uma possível escalada do conflito, atingindo a infraestrutura de petróleo na região e bloqueando o Estreito de Ormuz, levaria a uma queda de 1 ponto percentual no PIB da Zona do Euro e dos EUA, com a inflação subindo 0,5pp e 0,6pp, respectivamente.
REFLEXOS POLÍTICOS E LOGÍSTICOS NA REGIÃO – Segundo o relatório, o conflito também pode redefinir o cenário político e logístico no Oriente Médio. O Irã pode emergir como um ator regional mais enfraquecido e tornar-se mais instável internamente. Além dos danos à infraestrutura nuclear e militar, os ataques israelenses dizimaram uma parte significativa da liderança militar e política do Irã, deixando líderes menos experientes no controle da República Islâmica. Embora o regime esteja abalado, ele não entrou em colapso, já que não foram relatadas deserções internas da liderança ou da sociedade civil.
Por sua vez, em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu avalia convocar eleições antecipadas ainda em 2025, em meio a um contexto de baixa aprovação anterior ao conflito, quando pesquisas de opinião indicaram baixos índices de aprovação para o governo, prevendo uma derrota caso o pleito fosse realizado. A guerra com o Irã, no entanto, foi popular, e o seu impacto no apoio ao governo Netanyahu ainda permanece incerto.
Nos países do Golfo, o retorno do risco geopolítico já pressiona as monarquias a reforçarem seus sistemas de segurança e repensarem rotas de exportação de petróleo. Entre as alternativas em estudo estão a reabertura acelerada do oleoduto que conecta os campos petrolíferos do norte do Iraque à Turquia (via Curdistão Iraquiano); novos investimentos em dutos da Arábia Saudita para o Mar Vermelho; e projetos de oleodutos ligando o Golfo Pérsico diretamente ao Mar da Arábia, desviando do Estreito de Ormuz.
A atual trégua oferece alívio momentâneo, mas os fundamentos do risco geopolítico permanecem. A economia global ainda caminha em terreno frágil, e o Oriente Médio voltou a ser um fator determinante para inflação, crescimento e decisões logísticas e fiscais em escala global.
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