A produção de energia limpa, o uso de novas tecnologias, os desafios do setor elétrico e a transição energética foram temas do painel “Panorama da Transição Energética Global, Novas Tendências e o Papel das Energias Renováveis na Matriz Energética de Mato Grosso e do Brasil”, que inaugurou o XII Seminário de Energia, aberto hoje e que segue até amanhã (22), Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt).
O presidente do Sindenergia, Tiago Vianna de Arruda, enfatizou que a discussão sobre a transição energética no país é urgente e que é necessário debater os arcabouços legais e tributários para proporcionar maior segurança jurídica, visando a geração de mais energia limpa, com menor dano ao meio ambiente e menor impacto na sociedade.
Ele ressaltou que Mato Grosso consome anualmente 11 TWh e produz cerca de 20 TWh, sendo a maior parte proveniente de fontes hídricas. Apesar do crescimento do setor de energia solar, esta representa aproximadamente 10% da energia consumida no estado.
“Essa é a maior penetração de geração distribuída no Brasil; por isso, Mato Grosso é líder em tamanho de mercado, embora seja o quinto em potência instalada. Ainda há espaço para expandir esse sistema, pois nossas redes conseguem suportar mais investimentos em geração.
A transmissão ainda representa um gargalo, como exemplifica a região de Ribeirãozinho, que conecta com o Sudeste e entrega energia para Araraquara, em São Paulo. São necessários investimentos bilionários, e a iniciativa privada está pronta para realizá-los, mas é imprescindível que o setor público realize as outorgas e os leilões de forma a evitar problemas de fornecimento de energia no futuro.”
Para que o setor industrial de Mato Grosso cresça ainda mais, é essencial o fornecimento de energia elétrica, conforme defende o presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso, Sílvio Rangel. No entanto, o desafio, segundo ele, não está na geração de energias renováveis, mas em garantir que essa energia chegue às empresas, indústrias e residências.
“O futuro da indústria depende tanto da geração quanto da transmissão de energia. Sem energia, o crescimento industrial de Mato Grosso e o desenvolvimento regional são inviabilizados. Enfrentamos um problema sério na transmissão de energia, que demanda investimentos no setor e aprimoramento do serviço, incluindo manutenções e a renovação das linhas, com a transição de monofásico para trifásico. Mato Grosso é autossuficiente em produção de energia, com uma matriz limpa, mas é crucial discutir como essa energia é distribuída.”
O ex-senador e ex-governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, que também moderou o painel, destacou a importância das concessionárias de energia e o avanço da autogeração. Esta foi a segunda vez que ele participou do seminário, ressaltando a importância de reunir diferentes atores, como o setor público e o empresariado.
Maggi comentou ainda sobre a evolução dos investimentos em energia fotovoltaica no país, apontando como grande vantagem o fato de ser um sistema distribuído de energia e de investimento, composto por centenas de pequenos projetos que, juntos, formam um grande projeto.
“Já temos no Brasil um volume de energia solar comparável ao de uma Itaipu. Itaipu custou bilhões de dólares e teve um único financiador, o governo federal. Já a energia solar, que cresceu sem gerar dívidas, permite investimentos compartilhados, oferecendo à sociedade uma forma econômica de produzir energia. Contudo, a transmissão de energia é mais complexa e depende de contribuições coletivas. A distribuição é responsabilidade de uma concessionária. Se todos produzirem sua própria energia e desejarem utilizar as redes da concessionária sem custos, como isso funcionará no futuro?”
O deputado estadual Carlos Avalone e vice-presidente do Sindenergia destacou que o seminário traz debate de alto nível e técnico sobre o futuro da produção de energia elétrica no Estado e no país há mais de 10 anos, se tornando uma referência.
“Nós sabemos das transformações que o mundo está vivendo, tentando sair dos combustíveis fósseis para a energia mais limpa. Mato Grosso é um centro futuro e presente dessas energias mais limpas, como biodiesel, como o etanol de milho. Mato Grosso sairá, acho eu, pelo caminho mais rápido na solução pela substituição do combustível de aviação, que é um dos mais poluentes do mundo, com base do etanol de milho. Nós já temos o biometano como uma legislação estadual, já permitindo que isso aconteça, o biogás, somos os maiores produtores de etanol de milho e um dos maiores produtores de biodiesel”.
MATRIZ RENOVÁVEL – Especialista em regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Livia Raggi, apontou que 87% da matriz energética do Brasil é renovável, enquanto no mundo é 28,1%. No período de 23 anos, o Brasil saltou de 81GW para 232GW, com aumento da participação de fontes de energéticas como a solar, eólica, que sequer existiam em 2001.
“A energia deve ser um vetor de progresso e não um fardo financeiro para os cidadãos”, afirmou Raggi. Ela concluiu sua palestra destacando que a energia não só deve impulsionar o desenvolvimento econômico e social do Brasil, mas também ser acessível para que todos possam contribuir e se beneficiar desse crescimento.
EMISSÕES DE POLUENTES – O setor de transportes é responsável pela emissão de 47% das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) no Brasil. De longe, é o setor que mais polui e precisa de alternativas para zerar as emissões. A eletrificação dos veículos é uma das alternativas, bem como os combustíveis do futuro com incentivo de uso de biocombustíveis, por meio do programa Renovabio.
Os dados foram apresentados pelo coordenador geral do de etanol e biometano do Ministério de Minas e Energia, José Nilton de Souza Vieira. A meta do Brasil é reduzir em 10% a intensidade de carbono, sendo que atualmente é de 74gCO2/MJ. O país tem se destacado em programas para incentivar a produção de biocombustíveis como aumento da mistura do álcool anidro na gasolina, a produção de etanol, uso de biodiesel. Contudo, o mercado de biocombustíveis ainda representa de 20% de energia no setor de transportes.
Outra vertente, é o aumento da frota de veículos elétricos no país. Com o crescimento das vendas em 50% ao ano, e se continuar nesse ritmo, em 2033 cerca de 40% dos veículos novos comercializados no país serão elétricos.
“É importante descarbonizar o setor de transportes, reduzir as emissões de gás de efeito estufa para o Brasil cumprir suas metas de redução e que tendo em conta as características do Brasil como país tropical. O etanol hoje representa perto de 40% do consumo. A gasolina ainda é mais consumida do que o etanol. O etanol tem um conteúdo energético que é em torno de 70% do conteúdo energético da gasolina”.
Ele apontou que será difícil para o país cumprir os 80% de redução das emissões de carbono em 2040, bem como chegar aos 50% em 2030, como celebrado no Acordo em Paris, durante a COP na capital da França.
ECONOMIA VERDE – O gerente de Divisão de Infraestrutura Transição Energética e Clima do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Renato Santos, destacou a importância da transição energética como um vetor para a reindustrialização da economia brasileira. Segundo Santos, o BNDES está empenhado em apoiar a transformação da matriz econômica do país para uma mais verde e limpa, alinhada com os movimentos globais e a urgência da crise climática.
“O que surge agora é uma nova oportunidade de reinserção nessa cadeia global, que agora demanda processos produtos mais verdes e sustentáveis. Nosso desafio é transformar nossa matriz energética, nossas capacidades de recursos minerais, recursos naturais, nossa biodiversidade em vantagem competitiva. O país pode assumir essa liderança climática e assumir protagonismo nessa nova economia”.
O BNDES é o maior financiador de projetos de longo prazo no Brasil e lidera aporte de recursos em energia e infraestrutura. Foi aplicado R$ 35 bilhões em energia renovável, o primeiro lugar no mundo e financiamento em energia renovável. Também financiou 70% da expansão elétrica de 2000 a 2022, que corresponde a 79 GW.
“Temos as taxas competitiva para oferecer para essa transição, para essa jornada. A administração do Fundo Clima contou um reforço recente de R$ 10 milhões de capitais pelo Governo Federal. Esse dinheiro está sendo alocado no Fundo Clima e repassado pelo BNDES, como uma coordenação do Ministério do Meio Ambiente. Dependendo da linha de 6,15% a 8%, ou mais de 3,5% até de 16 anos. O Fundo Clima também é operado pelos agentes financeiros, que são credenciados por BNDES”, apontou. (Assessoria – Edição MT Econômico)