Com expetativas de inflação acima da meta, pressionada por demanda alta, o Comitê de Política Monetária (Copom) prevê “período prolongado” da taxa básica de juros (Selic) a 15% ao ano. A avaliação consta da ata divulgada ontem (24) pelo Banco Central.
A recente alta da Selic, de 0,25 pontos percentuais, passando de 14,75% ao ano para 15%, deve, portanto, ser interrompida para “avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, diz a ata.
De acordo com o comitê, os núcleos de inflação têm se mantido há meses “acima do valor compatível com o atingimento da meta”, o que, na avaliação do comitê, corrobora com a interpretação de que a inflação segue pressionada por demanda que requer “uma política monetária contracionista por um período bastante prolongado”.
INFLAÇÃO – Para o Copom, a desancoragem das expectativas de inflação é fator de desconforto que exige “restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado”.
A curto prazo, o cenário de inflação segue adverso, “mas apresentou surpresas baixistas no período recente em relação ao que os analistas previam”. A ata ressalta que os preços de alimentos apresentaram “dinâmica um pouco mais fraca” do que a esperada.
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. Em maio, o IPCA recuou para 0,26%, mesmo com a pressão de alguns alimentos e da conta de energia.
Com o resultado, o indicador acumula alta de 5,32% em 12 meses, acima do teto da meta contínua de inflação.
MERCADO – “A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a Selic para 15% ao ano indica um grau a mais no nível de austeridade do Banco Central, que já vem aumentando os juros desde setembro do ano passado, e um recado de que vai continuar perseguindo com ainda mais afinco a meta de inflação”, avalia Ricardo Serone, Diretor Financeiro e de Investimentos da BB Previdência.
Segundo Serone, a desaceleração da inflação em maio, bem como as expectativas do mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que também vêm recuando, aliado ao dólar mais fraco, ainda não foram suficientes para levar tranquilidade à autoridade monetária. “A inflação está resiliente, acima do teto da meta, o que deve manter os juros em patamar elevado por mais tempo”, acredita.
Colaboram para este cenário, diz o executivo, as incertezas em relação ao equilíbrio fiscal, além da atividade econômica e mercado de trabalho aquecidos. “A perspectiva é que a taxa comece a cair somente a partir de 2026”, ele afirma.
Em maio, a inflação medida pelo IPCA desacelerou ante abril, para aumento de 0,26%. Mas, em 2025, acumula alta de 2,75% e, nos últimos 12 meses até maio, subiu 5,32%, bem acima da meta de 3% perseguida pelo Banco Central, assim como do teto, de 4,5%. Contribuíram para a queda, em maio, a redução nos preços dos alimentos e dos combustíveis, principalmente.
“O aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio está alterando os preços do petróleo e pode impactar o índice, se perdurar. A energia também pode pressionar, com a indicação de bandeira vermelha a partir deste mês, assim como a inflação de demanda resistente, principalmente, em serviços, oriunda das medidas do governo para estimular a economia, para a qual a previsão do mercado é sempre crescente”, ele observa.
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