Já faz tempo que a data não é lembrada em Mato Grosso. É hoje! No entanto, ela foi um dos maiores marcos da história mato-grossense. Era o dia 12 de outubro de 1977, uma quarta-feira, quando a Lei Complementar 31/77, que estabelecia a separação entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, foi assinada no Palácio do Planalto, pelo presidente da República, General Ernesto Geisel. Estive na solenidade em Brasília. Sobre ela gostaria de recordar neste artigo. Na época, com 33 anos de idade, eu era o Diretor de Divulgação do Governo de Mato Grosso, o órgão oficial de comunicação com jurisdição sobre os dois estados.
Só a título de registro. A divisão começou a tomar forma a partir de 1932, por uma série enorme de razões. Com o regime militar, de 1964 a 1985, houve o impulsionamento, a partir do governo do General Garrastazu Médici (1971-1975). Na ocasião o governo do país estava preocupado em ocupar a Amazônia por conta de ameaças da França sobre a soberania na região. Argumentava que a Amazônia pertencia do mundo. A contrário do que se divulgou amplamente, havia as pressões da região Sul do Estado pela separação. Mas o essencial mesmo era ocupar a Amazônia a partir de Cuiabá.
Mas esse não é tema deste artigo. A Lei Complementar nasceu no Palácio do Planalto, elaborada por técnicos do Ministério do Interior e da Sudeco. Continha inúmeros equívocos. Veio para o governador Garcia Neto, de Mato Grosso, para analisá-la. O governador e a sua equipe de secretários e técnicos ficaram em Brasília durante uma semana revisando a Lei. Tive a oportunidade estar junto.
Todas as alterações feitas pela equipe foram reconhecidas e adotadas pelo presidente da República. A Lei foi aprovada em 11 de outubro e a sua oficialização foi no dia 12 de outubro de 1977. Foi uma imensa festa.
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O pessoal do Mato Grosso do Sul, que nasceria oficialmente no dia 12, com a sanção pública da lei pelo presidente Geisel, fez uma festa. Fretaram dois aviões Boeings da empresa aérea Vasp pra comemorar em Brasília. Foram pra um noivado. E em Cuiabá, na última hora fretou-se um Boeing da mesma empresa. Iam pra um velório.
Mato Grosso, do Norte, como se dizia na época, acreditava que sem a região Sul o Estado não sobreviveria. Mas na Lei Complementar o governador Garcia Neto incluiu a proposta, que foi aprovada, de um fundo de ajuda pra custeio e investimentos de CR$ 2 bilhões anuais, nos dois estados por 10 anos. Foi o que salvou Mato Grosso nos anos seguintes, ainda que não tenha sido cumprida completamente.
Enfim, a data já não faz parte do cotidiano de Mato Grosso, embora em Mato Grosso do Sul seja até feriado e dia de festa. Gostaria de voltar a escrever sobre esses tempos tão apreensivos. Fica pra outros artigos. Queria apenas registrar que há 46 anos, hoje foi um dia extremamente doloroso para Mato Grosso. Perdeu a sua parte do Sul, num clima de rivalidade até de ódio entre as lideranças políticas e econômicas. Mas passou.
Como tudo, passa. Passou!!!!!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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