Hoje em dia tudo é problema da City of London, Wall Street, La Défense, Marunouchi, Faria Lima ou Avenida São Sebastião, pois, são considerados grandes centros financeiros de influência negativa para o todo econômico, causadores de crises financeiras devastadoras como as de 1929 e 2008.
Mesmo diante dos seus ciclos e contra ciclos, imanentes ao capitalismo, penso que seja mais uma fase/etapa do capitalismo, como assim o foi o capitalismo extrativo, capitalismo agrário, capitalismo agrícola, capitalismo industrial, em busca da consolidação capitalista efetiva, tardia, nem tanto, mas, restringida, sem dúvida, devido ao excesso de regulamentações e intervencionismo na economia.
Os mercados possuem regulamentações autônomas pelas vias da concorrência, quem não busca eficiência, poder de mercado com capacidade produtiva, quebra, entretanto, no limite, as regulamentações econômicas não deveriam ir além das falhas de mercado.
Ao longo dessas etapas, fusões ocorreram entre esses capitais plurais para se protegerem da concorrência ou competir, enfatizando que o capital financeiro é resultado da intersecção entre capital bancário e capital industrial, obviamente, de maneira espontânea e descentralizada decorrente da necessidade de economia de crédito. A propósito, qual será a próxima fusão entre os capitais plurais? Indagação que deixo para o leitor refletir.
Rudolf Hiferding, em obra original e de vulto, de 1910, O Capital Financeiro, antecipou para o perigo do capitalismo de Estado poder subordinar a autonomia dos mercados, ao observar, coerentemente: “A subordinação de todo processo social historicamente significativo para a consciência do Estado, para a vontade consciente do Estado, significa a supressão das áreas de vida social que se encontravam previamente livres da influência do Estado e eram reguladas por leis autônomas”.
Assim, por mais que se apontem que há uma dominância impositiva reinante na atualidade dos mercados ou da economia, fundamental refletir que fatores estão determinando esta ou aquela dominância, ou seja, que fatores prevalecem para que ocorram dominância fiscal, dominância do balanço de pagamentos ou dominância financeira, para melhor análise do caso global e brasileiro.
Fechando a “traia”, relevante mencionar que o capital financeiro tem sido um grande fazedor de renda, mesmo com a presença do especulador profissional – aquele que busca bater o mercado e o Bacen – tendo em vista as incertezas e letargias do setor produtivo (público ou privado) que está saindo de um repouso forçado e prolongado devido ao caos pandêmico e essa guerra insana em parte da Europa. Porém, sabemos que não existe renda efetiva ou derivada sem investimento produtivo, gerador de acumulação ampliada.
Em suma, como já perseverou o professor Flauzino em sua tese de doutorado de 2016: “O ato de consumir, investir (produtiva ou financeiramente) e emprestar envolvem repassar a moeda para outro agente, que deverá fazer o mesmo para que os fluxos de gasto e renda e estoques de dívidas e riquezas se ampliem.”
No entanto, ele adverte: ao longo da história do capitalismo, o endividamento excessivo dos agentes econômicos foi combatido essencialmente de duas maneiras: a traumática desvalorização de dívidas (debitdeflation) e o processo de substituição de dívidas de determinados agentes pela de dívida de outros, em geral, a substituição de dívidas privadas por dívida pública.
Arrematando em tom amazônico, mas, regido pelo maestro da música econômica, o professor D. F. CARVALHO (2006, 2007, 2014), quando rege: no capitalismo financeiro o dinheiro não tem pátria, todavia, traz em si, fenômenos de incertezas e riscos que moldam comportamentos antes prudentes que podem encabeçar manias e euforias frágeis, desprovidas de orientações especializadas da área financeira.
Ernani Lúcio Pinto de Souza é economista da UFMT