Após ser gravemente afetado por uma calúnia, um homem à beira da morte recebeu o pedido de perdão do caluniador. Como condição, pediu que espalhasse as plumas de um travesseiro ao vento e, depois, tentasse recolhê-las. Com um terrível sentimento, o difamador replicou: “Mas isto é impossível! Eu não poderei juntar todas as penas. O ventou espalhou por muitos lugares”.
E então o irmão proferiu suas últimas palavras. “Eu te perdoo de todas as suas palavras contra mim, mas você jamais poderá consertar o estrago que fez à minha vida e à minha imagem diante de todos”.
Esta parábola ressalta a delicadeza da reputação e a perenidade das consequências de nossas ações, especialmente em um contexto moderno onde rumores e notícias falsas podem rapidamente se espalhar através de redes sociais e aplicativos de mensagens, como o WhatsApp. Este princípio se estende para além das interações pessoais, influenciando significativamente o tecido social, político e econômico das nossas comunidades.
No contexto dos investimentos e da economia, a disseminação de rumores e notícias falsas pode precipitar uma cadeia de eventos que resulta em consequências reais e muitas vezes desastrosas. Este fenômeno, explicado pelo conceito de profecia autorrealizável, demonstra o poder das percepções coletivas em moldar a realidade de mercados e economias.
A economia e os mercados financeiros são notoriamente sensíveis às percepções e sentimentos dos investidores. Essa sensibilidade está intrinsecamente ligada ao fator psicológico, onde a confiança desempenha um papel crucial. Quando os investidores acreditam em uma informação — seja verdadeira ou falsa — eles agem com base nessa crença. Essas ações, em massa, têm o poder de moldar a realidade do mercado conforme previsto por essas crenças, ilustrando o efeito de uma profecia autorrealizável.
Um exemplo clássico desse fenômeno ocorre quando rumores sugerem que uma instituição financeira está em apuros. Mesmo que a instituição esteja financeiramente saudável, a crença coletiva na sua instabilidade pode levar os correntistas a retirarem seus depósitos em massa, provocando, de fato, uma crise financeira na instituição. Assim, a previsão falsa inicial provoca uma realidade que valida a crença original.
Efeitos no Mercado
Os efeitos de tais dinâmicas não são limitados a instituições financeiras isoladas. Eles podem se espalhar por todo o mercado, afetando moedas, ações, títulos e até economias inteiras. A difusão de notícias falsas ou mal interpretadas pode levar a movimentos de mercado ilógicos e irracionais, prejudicando investidores, empresas e a economia como um todo.
A Responsabilidade do Cidadão
Cada cidadão carrega a responsabilidade ética de contribuir para a integridade das informações que circulam em nossa sociedade. Ao receber informações, especialmente aquelas que têm o potencial de prejudicar indivíduos ou influenciar decisões importantes, como em política ou economia, é essencial checar a veracidade antes de compartilhar. Disseminar notícias falsas ou rumores sem fundamento pode atentar contra a honra e a dignidade de pessoas públicas, além de provocar instabilidade econômica e social.
Ética nas Redes Sociais
Com o advento das redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas, como o WhatsApp, a velocidade com que as informações são compartilhadas aumentou exponencialmente. Isso eleva a importância da diligência individual em verificar os fatos antes de disseminar informações. A ética na comunicação digital não é apenas uma questão de responsabilidade individual, mas também um pilar para a manutenção da ordem e confiança nas esferas pública e financeira.
Conclusão
Os efeitos dessas dinâmicas não se limitam a entidades financeiras; podem alastrar-se por toda a economia, prejudicando a estabilidade e o crescimento. Portanto, torna-se essencial que cada cidadão adote uma postura crítica e responsável perante a informação que consome e compartilha. Verificar fatos antes de disseminar notícias, sobretudo aquelas que podem afetar a honra de pessoas públicas ou influenciar decisões econômicas importantes, é mais do que uma questão de ética pessoal; é um imperativo para a manutenção da ordem social e econômica.
Assim como o homem no leito de morte perdoou o caluniador, mas destacou a impossibilidade de reverter o dano causado, nós, como sociedade, devemos reconhecer a gravidade das consequências da disseminação de informações falsas.
Daniel Teixeira é empresário e conselheiro da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL Cuiabá).