No dia 12 deste mês escrevi o primeiro artigo, de uma série de 3, reconstituindo algumas memórias sobre a divisão de Mato Grosso, em 1977. A partir daí, um olhar pro nosso futuro.
Recordo dois fatos antes. Em junho de 1966, ainda estudante de Jornalismo na UnB, visitei Barra do Garças e o Vale do Araguaia em excursão estudantil. Fomos num velho avião DC-3 da Fundação Brasil Central, órgão federal que iniciava a abertura da região. A sede era num acampamento de 3 casas brancas de madeira em Xavantina, à margem do lendário Rio das Mortes. Hoje é a cidade de Nova Xavantina.
A outra lembrança é da cidade de Barra do Garças. Era um amontoado pequeno de casinhas muito modestas, a maioria coberta com telhado de capim. Ruas arenosas. Um quase acampamento de garimpeiros nordestinos e de alguns fazendeiros goianos e mineiros. Dali pra cima, a atual rodovias BR-158, era um risco no sertão do Vale do Araguaia. Algumas poucas fazendas de gado…e mais nada!
Em 1976 mudei-me para Mato Grosso, e a região ainda era quase aquilo da época de 1966. Exceto que desde 1973 chegaram os gaúchos pra colonizarem Canarana, Água Boa e Serra Dourada. Barra do Garças e Nova Xavantina desenvolveram muito a partir daí. Os gaúchos iniciaram a agricultura, mas o desconhecimento do solo e do clima do cerrado atrapalhou muito. Muitos quebraram e voltaram pro Sul. Outros ficaram a seus descendentes continuam na região. Praticam a moderna agricultura e se deram bem.
Conto tudo isso, para colocar no assunto a divisão de Mato Grosso.
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A razão começou muito longe de nós. Em 1971 a França lançou uma tese internacional de que a Amazônia é patrimônio da humanidade e deveria ser ocupada preferencialmente por países europeus. O governo militar, presidido pelo general Emílio Garrastazu Médici, decidiu ocupar a Amazônia. Criou uma Marcha para o Oeste cujo lema era “Integrar pra não Entregar”. A ideia era subir de Cuiabá na direção Norte até o porto de Santarém, no Pará.
Como a região tinha população baixa, criou programas de atração de colonos do Sul, do Sudeste e do Nordeste. Mais ao Norte, abriu a rodovia Transamazônica, que ligaria São Luís, do Maranhão, até Manaus. Preencheria o vazio amazônico ao Norte. No meio criaram-se agrovilas.
Pra se ter uma ideia, a população de Mato Grosso era de 596 mil habitantes em 1970. Com a divisão do Estado, em 1980, passou para 1 milhão, 139 mil. Gente migrante. Pra viabilizar a subida dos migrantes na direção Norte e atraí-los, o governo federal tomou 4 iniciativas: asfaltou as rodovias BR-364, de Goiânia a Rondonópolis e Cuiabá. A BR-163, de Campo Grande até Cuiabá. Criou a Universidade Federal de MT. Trouxe pra Cuiabá um linhão de energia elétrica desde Cachoeira Dourada, em Goiás. E construiu a rodovia BR-163, de Cuiabá até Santarém, com 1.700 km.
Em 1977 dividiu o Estado de Mato Grosso. Em 1979, Mato Grosso do Sul se separou de Mato Grosso. O que houve depois, gostaria de abordar no próximo artigo. Aceito contribuições dos leitores.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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