O Brasil não tem a tradição de ver o seu povo protestando nas ruas. Poucas exceções. Na morte de Getúlio Vargas em 1954. Depois, no regime militar marchas pela “Deus, Pátria e Família”, em 1964. Pulou pra 1984, na campanha da emenda das Diretas Já. Tivemos um longo salto no tempo e fomos rever gente na rua em 2013, quando estudantes protestaram duramente contra 20 centavos na passagens dos ônibus urbanos de São Paulo. Rapidamente os protestos ganharam outros apelas: a corrupção, os desmandos do governo Dilma, copa do mundo e alguns outros itens.
Durante o impeachment de Dilma Rousseff houve muitas manifestações que arrastaram multidões às ruas no pais inteiro. Depois, silêncio. Agora no governo Bolsonaro houve manifestações diversas ou dispersas. Mas as pessoas estão aprendendo a ir às ruas de levantar as vozes. Nas últimas semanas manifestações grandes. Os pró-Bolsonaro vestidos de camisetas amarelas e carregando a bandeira do Brasil. Neste fim de semana os pró-Lula vestidos com camisetas vermelhas e carregando bandeiras vermelhas.
Esses são os fatos. Vamos ver o que representa povo nas ruas se manifestando. Políticos e o Estado sempre tiveram medo das vozes das ruas. Com razão. O Deputado Ulysses Guimarães, o líder do PMDB na época da Constituinte chamava de “a voz rouca das ruas”.
A Europa precisou passar por uma infinidade de guerras, entre elas duas grandes guerras em 1914 e em 1939. Morreram mais de 100 milhões de pessoas nessas duas guerras. Perdas de famílias inteiras, de familiares, de propriedades, de identidade cidadã, perda de territórios, mudanças de fronteiras, perda de identidades nacionais. As guerras desfiguraram países e pessoas. As pessoas desses países reconstruíram tudo com consciência e com amadurecimento nesses últimos 75 anos.
O Brasil nunca teve guerras. Nunca teve qualquer tipo de catástrofe natural. Sempre vivemos em berço esplêndido. Por isso nunca precisamos amadurecer politicamente. Qualquer idiota consegue um mandato com o nosso voto direto ou com malandragens como as tais legendas. A gente vota no nosso candidato e os votos vão pra outro, em geral um oportunista. Só pra exemplificar. Na Câmara dos Deputados, em Brasília, dos 513 deputados, só 30 foram eleitos com os seus próprios votos. O restante pela malandragem da legenda. Os votos de quem não é eleito vão pra oportunistas que tiveram mais voto. Tipo uma corrente de votos.
A presença nas ruas vai amadurecendo e o amadurecimento vai aos poucos politizando 203 milhões de brasileiros analfabetos em termos dos seus interesses nacionais. Claro que não estou otimista com o Brasil. Ao contrário. Mas cada vez que o povo for à rua os malandros da política e os governantes espertos ficarão mais apertados. Falta muito? Falta. Mas pra História o que são 20 anos?
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso