Parece-me, mas desculpem o neologismo, Trezentina.
Refiro-me aos 300 anos da cidade de Cuiabá, no entanto, não desejo que o apelido prevaleça. Se bem que seria uma boa um apelidozinho momentâneo, tal como, Trezentina do Centro-Oeste ou Trezentina do Cerrado, assim como, em passado mais recente, ela foi Portal da Amazônia, Capital do Pantanal e, por último, Capital do Agronegócio.
Todavia, minha preferência é que ela continue sendo a Capital do Estado de Mato Grosso.
Sabemos que são poucas as cidades brasileiras com essa idade, pois, a fundação de Cuiabá data de 08 de abril de 1719, como registrado de maneira histórica e oficialmente, isto, há apenas, 220 anos, aproximadamente, após o descobrimento do Brasil, numa visão comparativa, aqui, com outros continentes e países.
Porém, fato é, que a integração continental pelos mares uniu países e continentes; enquanto a integração pelos rios integrou países, estados e cidades.
Toda cidade oriunda às margens de rios possui características marcantes em seus Centros Históricos com as "rueletas" estreitas e aconchegantes, nem tanto mais propícias ao tráfego de veículos, é verdade, mas, marcadas, também, por edificações com traços do barroco ao gótico, e segundo alguns, até o neogótico, isto, no caso de Cuiabá, especificamente.
Tempo em que o comércio, interno e externo, junto à mineração e a benevolência do rio Cuiabá, forças e estruturas econômicas à época, conduziram a um processo de acumulação que estimulou o crescente aumento populacional, passando a surgir, com o tempo, os vários Largos que passam a existir na Trezentina.
Largos como estratégia de urbanização, tais como: o Largo da Mandioca, o Largo do Palácio, o Largo do Porto. Meu inesquecível Porto, hoje, com uma extensa e bela orla fluvial que se inicia ao final da Barão de Melgaço com a Beira Rio até a ponte do Rio Coxipó.
Nesse processo de crescimento e desenvolvimento, Cuiabá continua enternecendo corações e mentes, tornando-se um dos mais importantes pólos de metropolização do Estado, em vista da sua diversificação dos serviços, concentração populacional, vantagem histórica e política, lealdade cultural de valor, etc., o que poderá capacitá-la a uma competitiva cidade-metrópole.
Cabe-nos, sem margem a dúvida, aparelhá-la, cada vez mais, com mobilidade urbana eficiente e moderna (VLT e ferrovia); cultura de valor criativa; infraestrutura básica e avançada; zelo pelo rio Cuiabá (oportunidades naturais); limpeza pública impecável e colaborativa; carga pesada e veículos de grandes portes zero no centro da cidade e em nossas principais vias (necessidade de terminal de carga(s) e via(s) estratégica(s); sistema rigoroso de prevenção e manutenção de distribuição/instalação de energia e de comunicação; educação e formação de sua gente; e, segurança justa e cidadã. Isso tudo, laureado pela sintonia e harmonia finas entre conhecimento e política.
Resta-nos que honremos nossas raízes: somos índios, brancos e negros, o que nos permite uma marca cultural de perseverança, tolerância, espírito desbravador e criativo, e dispostos ao trabalho árduo e cooperativo.
Sustentemos a Trezentina com sua história, seu povo e seus momentos de bravura estratégica, para assim, retomarmos e preservarmos seu equilíbrio-dinâmico sócio-econômico-cultural.
Ernani Lúcio Pinto de Souza, 57, cuiabano, é economista do NIEPE/FE/UFMT, ms. em planejamento do desenvolvimento pela ANPEC/NAEA/UFPA. Foi vice-presidente do CORECON-MT. (elpsouza@ufmt.br)