Quero trazer neste artigo duas leituras completamente diferentes sobre o mesmo tema: o preconceito urbano contra o mundo rural. Neste fim e começo de ano viajei de carro 3.600 km de Cuiabá a Brasília e a Minas Gerais. Em Minas fiz rotas diferentes para voltar a Brasília. Em Goiás fiz rota diferente na ida e na volta pra Cuiabá. Em todos os quilômetros percorridos, lavouras de um lado e de outro da rodovia: soja, milho, cana de açúcar e eucalipto. Além de minerações em Minas.
Fiquei impressionado com tudo o que vi. É um Brasil profundo que se dedica a produzir, a maioria em pequenos municípios. Minha cidade natal, Campos Altos (MG), por exemplo, tem apenas 13 mil habitantes e produz uma montanha de café de primeira qualidade. Ou Patos de Minas, um grande centro urbano com os pés no campo, que produz montanhas de milho, com os seus 159 mil habitantes.
Enquanto no Brasil litorâneo e nas grandes cidades o preconceito corre solto contra esse Brasil profundo. Mato Grosso é um estado profundamente produtor agropecuário, mas em Cuiabá e em Várzea Grande, o preconceito é enorme contra o mundo rural. Nas escolas do fundamental, do ensino médio e nas universidades o preconceito é alimentado diariamente, por quem não conhece um pé de couve.
O segundo ponto deste artigo, foi uma entrevista recente que assisti, com o ex-ministro da Agricultura e professor da ESALQ, Roberto Rodrigues. Ele lembrou que a agropecuária é quem mais movimenta a indústria nas suas várias cadeias produtivas, o comércio nas suas cadeias produtivas e os serviços, também nas suas cadeias produtivas. E todos são urbanos. Quem fabrica tratores, carros, caminhões, geladeiras, fogões, eletrônicos, vive nas cidades. Mas seu mercado consumidor ou é o campo diretamente, ou vem da renda nascida do campo. Traduzindo: quem vive nas cidades depende profundamente do mundo rural.
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Outro dado curioso: a população que consome os alimentos produzidos no campo é urbana. O mundo rural tem população reduzidíssima. Logo, a burrice urbana é mesmo falta de informação. Ou informação falsa vinda de setores como educação, política ou do serviço público.
Essa cara deformada da atividade econômica no Brasil é uma construção ideológica recente. De um lado é burrice mesmo! De outro é a preguiça mental de pensar e enxergar a realidade. Uns dependem dos outros. O urbano depende mais!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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