Além dos impactos negativos psico-espirituais causados nas pessoas pela pandemia, esta, desestruturou, também, cadeias globais, regionais e locais de valor de produtos, insumos, suprimentos e serviços.
Daí que, o resguardo sanitário forçado foi necessário para o controle do contágio iminente e potente, caso contrário, a situação teria sido bem pior, mesmo porque, ninguém estava brincando de contaminar-se ou morrer.
Passados esses aproximados dois anos de crise epidêmica, com 5,2 milhões de pessoas mortas no mundo, no Brasil, perderam-se 615.636 mil vidas (OMS, dez.21), o dano foi enorme.
Mas, apesar dos pesares, o mundo vem se reestruturando, visando com isso, quero crer, cientificamente, em uma maior auto-inclusão das pessoas no acesso aos vários serviços de saúde preventiva e curativa, e serviços em geral, e, em comentário relacionado, o setor que mais será beneficiado com a quarta revolução tecnológica.
A propósito, vejam o quanto a ciência e a concorrência trouxeram benefícios para Cuiabá com novos e modernizados laboratórios, farmácias, hospitais, clínicas, etc. o que, certamente, contribuiu no combate à doença.
Bom será se esse par do desenvolvimento continuar revolucionando e “reestruturando cadeias globais e regionais de valor de produtos e suprimentos” (título de live promovida pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais-CEBRI) proporcionando uma globalização cada vez mais sustentável, com um comércio internacional limpo, aquele que não terá habitat para o câmbio sujo e práticas comerciais clandestinas e contrabandeadas.
Problema que, além de mortes de entes queridos, houve também a morte de muitas empresas, o que contribuiu para a escassez de muitos produtos, desemprego e alta dos preços.
Os governos agiram como puderam diante desse desequilíbrio global, levantando recursos para os serviços de saúde e proteção às famílias e empresas, o que poderá contribuir para o desarranjo do orçamento público e a dívida pública, ainda, mais, com a crise do balanço de pagamentos de muitos países (O. CANUTO, 2021), por isso, essa gangorra cambial insana.
Como se não bastassem os efeitos mencionados, outro grave efeito trazido pela crise endêmica está sendo o fenômeno inflacionário, que, alguns, estão considerando ser uma inflação temporária, transitória; enquanto outros, afirmam estarmos vivendo uma ‘estagflação’, um conceito dos anos 70/80 que combinava paralisação de atividades econômicas e consequente inflação.
Eis, porque, a necessidade de calibrar as políticas monetária e fiscal, isto é, ter prudência na elevação ou não da taxa de juros SELIC (Sistema Especial de Liquidação e Custódia, que remunera os títulos públicos do Governo Federal) e mudanças na política de gastos e estímulos fiscais.
Em momentos de período eleitoral, geralmente, ocorrem elevação do gasto e consequentemente aumento da inflação, todavia, há que se redobrar a atenção diante desse cenário de incertezas endêmica e econômica.
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A partir de ressonância magnética econômica acurada, laudam-se vários diagnósticos, porém, a preocupação maior é com a inflação global, por isso, penso, que no caso brasileiro, ao invés do estado insistir como gastador de última instância, melhor e mais prudente, seria que ele agisse como um fazedor de ambiente (institucional) de primeira instância, aliás, algo que vem sendo buscado desde o reestruturante e modernizante Plano Real, que foi atropelado por grupos de interesses retrógrados e “patrimonialistas” (nos termos de R. FAORO, 1958), ditos nacionalistas, que pressionam, junto ao Congresso Nacional, Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais, contra privatizações, abertura da economia e reformas em geral.
Numa tentativa de síntese, arremato dizendo que a pandemia, que se tornou pandecrise, há de ser pesquisada e controlada, contando, para o seu combate democrático, com novos hábitos e atitudes importantes incorporadas na sociedade, não nos permitindo, portanto, vacilar nisso tudo, e, muito menos, na vacinação, pois, somente, assim, poderemos continuar acreditando e confiando na ordem, no progresso e na cidadania, mesmo sabendo, que não existe Ordem sem Justiça; Progresso sem Trabalho, sem Ciência e sem Concorrência; e, Cidadania sem Educação e Saúde.
Ao fim e ao cabo, óbvio é, que toda riqueza construída com trabalho e dignidade merece todo respeito social, sendo que a barreira a entrada contra concorrentes (diretos e indiretos) chega a ser natural, no entanto, esperteza demais, gera apenas uma riqueza temporária, vergonhosa e consumidora de recursos públicos escassos.
E é só. O resto é política de esquina e de WhatsApp.
Ernani Lúcio Pinto de Souza, 59, economista da UFMT/CACS, especialista em DRH pela MEC/BID III/UFAL, mestre em Planejamento do Desenvolvimento pela ANPEC/UFPA/NAEA. Foi vice-presidente do CORECON-MT. (elpz@uol.com.br)
PS.: Não esqueçamos, jamais, que a segunda Grande Guerra Mundial ceifou a vida de 60 a 70 milhões de pessoas (Rede Mundial de Informações, 2021) em busca e conquista democrática do Dia D, quando Aliados combateram o Eixo, tendo a Rússia no front com os Aliados e a China do lado do Eixo, defendendo interesses de ditaduras militares nazistas e fascistas.