No último domingo (5) Dante de Oliveira completou 70 anos de idade. Já não está mais entre nós no mundo físico, desde 6 de julho de 2006. Por mais que se tenha falado sobre o papel de Dante na política brasileira e na política mato-grossense, sempre há uma revisão obrigatória ano após ano.
Conheci Dante de 1976, discursando em cima de uma caixote de madeira no ponto de ônibus do Terminal da Prainha, onde pessoas esperavam os ônibus urbanos. Discurso radical da esquerda da época. Pouca audiência e a derrota pra vereador em Cuiabá. Na próxima eleição, a primeira do Mato Grosso pós-divisão, elegeu-se deputado estadual pelo MDB. Teve um mandato de oposição ao governo estadual da época, dirigido pelo engenheiro Frederico Campos.
Mas foi no mandato de deputado federal pelo PMDB, em 1984, que se notabilizou como político nacional ao apresentar na Câmara dos Deputados em 1983 a emenda das Diretas-Já que propunha a eleição direta pra presidente da República em 1984, pro mandato de 1986 a 1990. A emenda não passou por 38 votos, mas marcou o fim do regime militar que começara em 1964. Sua emenda não foi a única, mas ganhou o espeço político e polarizou a opinião pública e a política nacionais.
Em 1985 elegeu-se prefeito em Cuiabá. Saiu e foi ministro da Reforma Agrária. De volta elegeu-se novamente prefeito e saiu pra ser governador de Mato Grosso, eleito em 1994. Aqui começou a segunda fase da expressão política de Dante de Oliveira. A primeira foi a nacional com a campanha das Diretas-Já. No governo, com ideologia completamente à esquerda, assumiu em 1994 e tomou um grande susto. O governo de Mato Grosso estava completamente quebrado. Pra se ter uma ideia: de cada 1 real arrecado em impostos no estado, o governo devia 3 reais a fornecedores e salários atrasados. Sem falar na dívida federal.
Neste momento a demanda por energia elétrica era muito grande e não havia a menor disponibilidade pra aumentar a oferta. A Cemat, centrais de energia elétrica estava quebrada e endividada. O presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, pressionado por Dante sobre o problema energético, exigiu a filiação de Dante ao PSDB, o seu partido. Deixou o PDT, brigou com Leonel Brizola e filiou-se ao PSDB. As tratativas políticas e econômicas vieram na compra de metade da Cemat pelo governo federal até a sua venda em 1997.
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Na esteira da venda da Cemat, por exigência do governo FHC, Dante fez uma reforma fiscal que implicou também no fechamento do Banco do Estado de Mato Grosso, na municipalização da empresa de Saneamento, a Sanemat, no fechamento das empresas públicas Cohab, Casemat e da Codemat, uma espécie de governo parelho. Também foram demitidos mais de 10 mil funcionários públicos nomeados ilegalmente depois da constituição de 1989, que impôs a exigência de concursos públicos.
Foi um terremoto em Mato Grosso. Mexeu no coração da política partidária tradicional e na vocação inata de emprego público. Mexia-se ali no coração da política tradicional de Mato Grosso. Chamou-se de reforma fiscal. Dante perdeu muito poder de mobilidade econômica na gestão da máquina estadual ne medida em que os custos da reforma como salários, indenizações trabalhistas e dívidas dos órgãos extintos, viraram dívida estadual junto ao governo federal. A Secretaria do Tesou Nacional passou a gerir e fiscalizar os balanços financeiros do governo.
Em 2002, reeleito, Dante candidatou-se ao Senado Federal e apoiou o ex-senador Antero Paes de barros ao governo no seu lugar. Ambos não se elegeram. Dante submergiu na política nos anos seguintes esperando a hora de voltar. Morreu antes.
A síntese é clara, olhando hoje distante no tempo todos esses acontecimentos. Dante foi um estadista do seu tempo. Separou o Mato Grosso tradicional e abriu as portas de um Mato Grosso novo. Esse que temos hoje. Outras portas precisarão ser abertas e outras fechadas. Assim funciona a História.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso