Números que ajudam a ilustrar essa realidade desigual são vistos no rendimento médio real por hora. Entre as mulheres houve redução de 6,0% (R$ 10,25), interrompendo crescimento registrado nos últimos seis anosm, enquanto que para os homens a retração foi ainda mais intensa, de -8,8%, passando a remunerar R$ 12,20 por hora.
Igualdade só em 2086
Está claro que a questão de igualdade entre gêneros é ponto urgente na agenda de entidades e governos (ou deveria ser!) em plenos 2016. Um dos exemplos é o Movimento ElesPorElas (HeForShe) de Solidariedade da ONU Mulheres pela Igualdade de Gênero, lançado em setembro de 2014. Evidentemente, qualquer conquista nesse sentido é louvável.
Questões sociais e culturais que envolvem preconceito e machismo vêm sendo discutidas por movimentos feministas por décadas – ganhando visibilidade com a ajuda de redes sociais – e, pelo que tudo indica, causando efeitos positivos. Apesar disso, ainda encontramos um cenário de marginalização feminina no mercado de trabalho, com números que assustam: do total da População Economicamente Ativa (PEA), elas ainda são minoria, 46%, e a diferença salarial no País chega a quase 20% entre mulheres e homens que cumprem o mesmo cargo.
Para ilustrar a urgência do tema, podemos destacar que o Brasil foi considerado o segundo pior entre os Países quando o assunto é a igualdade salarial entre os gêneros, de acordo com uma pesquisa que integra o Índice Global de Desigualdade de Gênero, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial em novembro de 2015. E se engana quem pensa que a disparidade só acontece nos chamados “setores tipicamente masculinos”: mesmo costureiras ganham, em média, 5,5% a menos que homens que exercem a mesma função, de acordo com uma pesquisa da Employer, empresa especializada em RH.
No ranking das profissões mais procuradas por mulheres brasileiras, ainda segundo a pesquisa, estão de Auxiliar Administrativo, Vendedor, Operador de Caixa, Recepcionista e Atendente. Em todas, elas têm salários menores que eles: -7%, -13,8%, -6,1%, -7,2% e -6,9%, nesta ordem. O maior índice de desigualdade, porém, foi registrado entre professores, com homens ganhando 19,6% mais do que mulheres.
Homens reivindicam mais por melhores salários do que mulheres, segundo especialista
Como explicar essa discrepância nos números? A responsável pelo Salário da Employer, serviço focado em cargos e remuneração, Fabiana Zandroski, explica que, além das questões histórico-sociais de preconceito, ainda existem entraves na contratação de mulheres pela licença maternidade. “Enquanto a licença maternidade é de 4 meses, para o homem é de 5 dias. Isso faz com que a responsabilidade pelo bebê caia na mulher, o que não é verdade. São questões que parecem bobas, mas que influenciam. Então, as empresas acabam contratando homens”, ressalva.
Outro fator importante é comportamental: os homens reivindicam mais frequentemente por melhores salários. As mulheres tendem a evitar conflitos e, por isso, reclamam menos esse direito.
Porém, Fabiana é otimista e considera que há um movimento importante hoje de muitas empresas que buscam políticas para a igualdade, ou seja, maior conscientização. “Quando a empresa tem uma política bem estabelecida, ganha nas questões de rotatividade, competitividade. A igualdade de mercado é necessária e as corporações têm muita responsabilidade sobre isso”, defende.
Embora o mercado brasileiro apresente números desafiadores, o problema é mundial: segundo dados da ONU Mulheres, entre as 500 maiores empresas do mundo, menos de 5% possuem CEOs do sexo feminino. Além disso, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirmou que as mulheres trabalham mais e ganham menos que os homens – e que a igualdade de remuneração entre gêneros só será atingida em 2086. Com isso, percebemos um cenário que ainda exige mudanças e quebras de paradigmas no mercado de trabalho global.
Passos lentos, porém reais
Olhando de maneira mais otimista, apesar dos dados que revelam um vão entre a presença masculina – que tem cargos mais altos, com salários maiores – a luta pelo empoderamento feminino no mercado já surtiu efeito nos últimos anos.
Questões familiares e licença maternidade são entraves para algumas empresas – mas isso vem mudando
Segundo estudos sociais do IBGE, de 2004 a 2014, houve um aumento de 60% no número de mulheres ocupadas em trabalhos formais, o que revela a melhoria na qualidade de emprego. Também nesta pesquisa, o instituto mostra que o crescimento das mulheres entre a População em Idade Ativa (PIA) foi de 20,1%, maior do que a de homens – o que pode ser interpretado pela maior saída masculina do mercado (a população de homens inativos variou em 42,1% – o dobro entre elas).
O economista Alexandre Loloian também aponta números que mostram a maior importância feminina no mercado a partir da década de 1990. “Temos muito o que melhorar, mas temos um patamar elevado se compararmos com estatísticas de outros países, estamos próximos da faixa de participação feminina em países desenvolvidos como a Inglaterra – e muito acima da Itália, por exemplo, com uma taxa de 37%”, destaca. “Isso mostra uma sofisticação do mercado brasileiro, o rompimento das barreiras culturais e o esforço individual e coletivo na busca pela educação”, finaliza.