Entidades que representam o agro mato-grossense se articulam para minimizar os efeitos da guerra no Leste Europeu entre Rússia e Ucrânia, que já começa a ter impacto na economia brasileira. Lideranças do setor produtivo de Mato Grosso estão em ‘sinal de alerta’ e acendem o sinal vermelho para o planejamento da safra 2022/23. Além da alta no petróleo, que já ultrapassou os US$ 110 por barril, o fornecimento de vários insumos oriundos da Rússia e Belarus pode estar ameaçado.
“A luz vermelha acendeu com a guerra entre Rússia e Ucrânia. O presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve na Rússia para garantir o fornecimento de fertilizantes, principalmente cloreto de potássio. Agora, tudo virou uma incógnita e a gente já viu o Putin [presidente da Rússia] dando declarações de que não vai mais vender fertilizante para o Brasil”, destaca Paulo Sérgio Aguiar, presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa).
Aguiar explica que as medidas que a Europa, os Estados Unidos e outros países estão querendo impor, por meio da Organização das Nações Unidas (ONU), também afeta a comercialização de fertilizantes. A Rússia, por exemplo, já foi retirada do Swift, um sistema que padroniza as informações financeiras, permitindo a negociação entre empresas de vários países.
“Isso significa que não temos como pagá-los para receber no Brasil. Somente em 2021, o país consumiu mais de 45 milhões de toneladas em fertilizantes. Deste total, apenas 6,5 milhões de toneladas foram produzidos dentro do nosso território, o restante importado, sendo que mais de 8 milhões vieram da Rússia”, pontua.
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Sem fertilizantes, o custo de produção agrícola no Brasil aumenta exponencialmente, podendo, até mesmo, tornar inviável alguns cultivos e faltar alimentos na mesa do consumidor. Para se ter uma ideia, somente em 2021, o preço médio do cloreto de potássio (KCL) subiu de U$ 320 a U$ 340 para mais de U$ 950 a U$ 1000. A ureia na safra 2019/20, que antes estava na casa dos U$ 360, ultrapassou os U$ 725.
“Daqui a pouco também vão aumentar as sanções para Belarus, outro grande fornecedor de fertilizantes. Além disso, alguns navios mercantis estão sendo bombardeados. Pelo menos cinco navios no Mar Negro foram atingidos. Desta forma as empresas não querem mais mandar navios para essas regiões”, destaca.
ALTERNATIVAS – “É uma questão muito difícil. A única alternativa que nós temos, e não é para 2022, é começar a pensar na exploração das minas de potássio em Autazes, no Amazonas, e acelerar a produção e exploração das minas de fósforo no Brasil. Outro ponto é a Petrobras voltar a produzir através do gás natural, o subproduto: nitrogenado”, afirma.
“Nós estamos sentados numa das maiores minas de cloreto de potássio do mundo, mas não estamos explorando um quilo sequer por problemas no licenciamento ambiental”, finaliza.
APOIO POLÍTICO – O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), Fernando Cadore, destacou a necessidade de desburocratizar o sistema de licenciamento no Brasil. “Precisamos desburocratizar o sistema de concessão e de licenciamento dessas jazidas de recursos minerais com potenciais para o uso de fertilizantes no País”, enfatizou.
O presidente da Aprosoja/MT destaca que a dependência brasileira poderá ser sentida pelos consumidores nas gôndolas dos supermercados em pouco tempo, com altos preços e até desabastecimentos. “O Congresso Federal precisa agir rápido, é momento de deixar as ideologias e se preocupar com o futuro e a alimentação das pessoas, se o Brasil não agir rápido poderá acontecer escassez de alimentos, inflação e desemprego”, afirmou.
Cadore destacou também, que a dificuldade é que o Brasil depende das importações de insumos, como fosfato, cloreto de potássio e ureia, por exemplo. “Fica o apelo às autoridades federais, em especial ao Congresso Nacional, uma vez que o País já deveria ser autossuficiente em fertilizantes, mas ainda existe muita burocracia. O impacto desse custo poderá gerar inflação ou falta dos alimentos, uma vez que direta ou indiretamente esses grãos servem de proteína animal ou para o consumo direto”.
De acordo com o presidente da Aprosoja/MT a balança comercial brasileira depende dos setores da agricultura e pecuária. “É um momento de apreensão, precisamos aguardar os desdobramentos para não entrarmos em movimentos especulativos”, alertou.
Segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), de janeiro a julho de 2021, dos 23,8 milhões de toneladas de fertilizantes entregues aos agricultores, 20 milhões de toneladas foram de produtos importados e 3,8 milhões de toneladas produzidas nacionalmente.
EM BRASÍLIA – Em fevereiro de 2020, foi apresentado no Congresso o projeto de lei 191/2020, regulamenta o parágrafo 1º do art. 176 e o parágrafo 3º do art. 231 da Constituição para estabelecer as condições específicas para a realização da pesquisa e da lavra de recursos minerais e hidrocarbonetos e para o aproveitamento de recursos hídricos para geração de energia elétrica em terras indígenas.
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