Um sonho, de produção de algodão em sistema agroflorestal, é possível e está se tornando realidade em áreas rurais próximas de Cuiabá/MT. É o que indica uma pesquisa que vem sendo conduzida desde o início deste ano pelo Centro Tecnológico Vocacional em Agroecologia (CVT-Agroeco) na Fazenda Experimental da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), localizada no município de Santo Antônio do Leverger.
A conclusão dos pesquisadores mostra que a cadeia produtiva do algodão orgânico pode crescer de forma que atenda a demanda pelo produto no mercado têxtil com uso de matérias-primas, técnicas e manejos ecológicos, gerando dessa forma, menor impacto socioambiental. Além disso, o cultivo dessa matéria-prima pode vir a ser mais uma opção para os produtores que já trabalham com agroflorestas, gerar renda, contribuir com o desenvolvimento das comunidades da Baixada Cuiabana de forma sustentável e com baixo impacto socioambiental.
A difusão de conhecimento sobre todos os protocolos que vem sendo adotados na área de meio hectare cultivados com a variedade BRS Aroeira (de ciclo curto de cerca de 160 dias e adaptado às condições do cerrado) vem sendo realizado pela equipe do projeto para os agricultores. De acordo com o pesquisador e coordenador do projeto, professor Henderson Nobre, as capacitações são momentos de mostrar quais são os métodos recomendados e os resultados dessas práticas.
“Mais uma vez partilhamos conhecimentos sobre a metodologia que adotamos para o cultivo de algodão em um novo círculo virtuoso baseado nos princípios da Agroecologia: holístico, com foco na biodiversidade abaixo e acima do solo. Nessa capacitação mostramos como se deu o monitoramento da área e os procedimentos que foram usados para a colheita. No pós-colheita faremos o tratamento da pluma do algodão. Tem um método especial para colher, para tratar e armazenar o algodão agroecológico“, explicou.
Com protocolo testado na área experimental, o objetivo do projeto é levar o algodão regenerativo para agricultores da Baixada Cuiabana. “Pretendemos espalhar essa tecnologia para as áreas de agricultura familiar, fazendo o próximo plantio em dezembro deste ano em áreas mais consolidadas com técnicas e ferramentas para que o agricultor possa plantar o algodão orgânico dentro de sua propriedade”, afirmou Rafael Laranja, pesquisador e coordenador executivo do Projeto Floresta de Algodão.
Para o diretor do escritório de Inovação Tecnológica da UFMT, professor Raoni Teixeira, o evento mostrou a capacidade que a universidade tem para vencer as barreiras para uma aplicação prática dos conhecimentos. Segundo ele, inovação não acontece porque aquilo que está sendo produzido é muito tecnológico, com muita tecnologia. Inovação tem a ver com transformação, com mudança, com chegar na ponta para as pessoas.
A expectativa é alta por parte dos agricultores familiares que participam das capacitações. “Acredito muito que é um projeto que pode agregar ao que já fazemos. Poderá ser mais uma fonte de renda. Esse projeto leva muito conhecimento para a base”, avaliou Maria Valéria de Moraes, agricultora familiar no município de Nossa Senhora do Livramento.
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“É muito interessante esse projeto do algodão agroecológico. Nossa experiência com agroecologia vai nos ajudar a cultivar mais esse produto”, pontuou Antônio Sérgio Aguiar, agricultor familiar na cidade de Várzea Grande.
Para Lucinete Campos, agricultora familiar no município de Chapada dos Guimarães, é uma grande oportunidade para ampliar a agrofloresta de sua propriedade. “Aos poucos vamos ampliando nossa produção. Estamos muito contentes com mais essa alternativa de cultivo. “
CADEIA PRODUTIVA – Além de criar alternativas para desenvolver a cultura do algodão agroecológico, o projeto Floresta de Algodão pretende contribuir para o fomento da cadeia produtiva a partir da pesquisa até o mercado têxtil que tem uma grande demanda por esse produto. Na indústria da moda, o algodão é uma das principais matérias-primas.
A FarFarm é a empresa parceira do projeto na criação e desenvolvimento da cadeia produtiva. A expertise da empresa na promoção da produção de fibras naturais para a indústria têxtil está auxiliando as atividades do cultivo do algodão agroecológico desde a concepção do projeto até a venda do produto final.
“Estamos trazendo essa cultura regenerativa do algodão de uma forma muito coletiva, estamos todos compartilhando os conhecimentos e nossas práticas com a agroecologia. Fazemos muita troca. Todo início de um projeto inovador é muito desafiador. A perspectiva de aliar modernidade, contemporaneidade e conhecimento ancestral é que faz o projeto se desenvolver, bem como o de cuidar do meio ambiente e das pessoas trabalharem satisfeitas, ou seja, com o que elas gostam e acreditam”, destacou Beto Bina, fundador e sócio da FarFarm.
O MERCADO – A exigência do mercado consumidor quanto a produzir produtos que causam baixo impacto socioambiental é vista por Bina como grande métrica que as empresas estão buscando cumprir. As grandes empresas da moda pretendem até 2030 ter seus materiais rastreados, certificados e de origens sustentáveis. No Brasil, apenas 0,1% do algodão utilizado pela indústria têxtil é orgânico.