O ano de 2023 foi positivo para o agronegócio brasileiro. Com recorde na safra de milho, o PIB do setor caminha para fechar o ano com uma expansão de 14,8%, segundo análise da consultoria MB Associados. Mas as perspectivas para 2024 são mais desafiadoras: em um primeiro prognóstico, o IBGE prevê uma redução de 2,8% na safra frente a 2023. Isso se deve, principalmente, às variações do clima: o excesso de chuvas no Sul e a seca no Norte atrapalharam o plantio, o que deve ter impacto direto na produção do ano que se inicia.
Segundo recente relatório da FAO, a agropecuária mundial perdeu US$3,8 tri com catástrofes entre 1991 e 2021. A maior parte dessas catástrofes, que saltaram de 100 por ano em 1970 para 400/ano nas últimas duas décadas, é decorrente de mudanças climáticas.
Os conflitos na Europa e no Oriente Médio também devem impactar o agro brasileiro, já que interferem no preço do petróleo, afetando os custos de produção de fertilizantes, pesticidas, diesel e fretes.
Para minimizar a dependência das mudanças climáticas e apostar em um agro mais sustentável, com fertilizantes e defensivos “de casa”, importantes cientistas de Agri biotechs brasileiras estão desenvolvendo novas tecnologias de alto valor para o setor, propondo uma mudança positiva na qualidade e produtividade das culturas agrícolas.
Abaixo, duas soluções disruptivas criadas por startups que vão impactar o setor a partir de 2024:
1. Edição genética
Nada de transgenia. Aqui, a ideia não é alterar o material genético com a introdução de genes provenientes de outra espécie. A disrupção proposta pela InEdita Bio – startup de inteligência em Life Science que utiliza a engenharia molecular para aumentar a sustentabilidade do agronegócio – é editar genes chaves da própria planta para promover a melhoria de qualquer característica agronômica desejável.
“Comparo esse processo ao de editar um texto. Não reescrevemos ou adicionamos nada, apenas corrigimos pequenas partes para que o todo fique melhor. Essa edição é possível através das nossas plataformas, que podem ser utilizadas com qualquer método de transfecção celular, incluindo tecnologias que utilizam ferramentas biológicas como a Agrobacterium tumefaciens, ou ferramentas físicas como o bombardeamento com micropartículas ou o uso de nanotubos de carbono”, afirma Paulo Arruda, sócio-fundador da biotech.
Com as plataformas da InEdita, focada nas principais culturas agrícolas mundiais – soja, milho, arroz e trigo -, é possível desenvolver variedades resistentes a pragas e doenças, variedades com maior capacidade de fixação biológica de nitrogênio, e variedades mais resilientes a episódios de seca e altas temperaturas.
Hoje, cerca de 90% do milho e soja cultivados no Brasil possuem biotecnologia. Nosso país, pelo seu clima extremamente favorável, tem potencial de aumentar ainda mais a produção das grandes culturas. Mas, para isso, precisa aumentar significativamente a produtividade das culturas – produzir mais em menos espaço e com menos insumos químicos. “Nossos traits biotecnológicos de alto valor permitem a produção sustentável de alimentos, com redução do impacto socioeconômico e ambiental dos fertilizantes e pesticidas químicos, e aumento da resiliência das culturas globais aos efeitos das mudanças climáticas“, conta Arruda.
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2. Biológicos de nova geração
O Brasil importa cerca de 85% dos fertilizantes usados na agricultura. Quando a Guerra da Ucrânia começou, o fornecimento foi impactado e mostrou tanto a dependência do setor pelo que se produz lá fora quanto a urgência de soluções desenvolvidas aqui.
Dentro das possibilidades para atender a esta demanda estão os bioinsumos – especialmente os biológicos de nova geração, soluções disruptivas desenvolvidas à base de novos microrganismos. Aqui, destaca-se a Symbiomics. A biotech brasileira trabalha com o que há de mais avançado no mercado para estudos de microbioma, genômica, análise de dados e edição genômica, desenvolvendo soluções de nutrição vegetal, biocontrole, sequestro de carbono e bioestimulantes usados para aumentar a produtividade agrícola de forma sustentável e com menor impacto ambiental.
“As novas tecnologias biológicas da Symbiomics são capazes de captar e melhorar a absorção de nutrientes para o ecossistema, como nitrogênio e fósforo. Isso sem gerar danos aos solos, biomas e, principalmente, à saúde humana, já que substituem parte dos produtos químicos comumente usados e com alto índice de toxicidade”, afirma Rafael de Souza, CEO e cofundador da startup.
Em termos econômicos, para o Brasil, as biotecnologias desenvolvidas pela startup podem reduzir a dependência de insumos importados, desvinculando os custos dos produtores da variação do dólar e do custo de transporte internacional. Ou seja, uma contribuição para a sustentabilidade e para a economia local.
“Nossas soluções têm um potencial essencial na adaptação das plantas às condições climáticas adversas, situação que vem se agravando por conta do aquecimento global. No aspecto ambiental, as tecnologias desenvolvidas pela Symbiomics – ao empregarem microrganismos nativos e mais eficientes do ponto de vista de atuação – estimulam a manutenção das comunidades microbianas benéficas existentes no solo, gerando maior equilíbrio e oferecendo uma barreira aos fitopatógenos que causam danos à cultura e prejuízos aos produtores”, completa Jader Armanhi, COO e cofundador da Symbiomics.