Durante todo final de semana, repercutiu no meio rural mato-grossense o posicionamento da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT) contrário à antecipação do plantio da soja no Estado que, conforme autorização do Ministério da Agricultura e Pecuária, já poderia ser feito a partir de 1º de setembro e não a partir do dia 16, um dia após o fim do período proibitivo do Vazio Sanitário.
Em uma nota enviada à imprensa, a Aprosoja/MT se coloca “veementemente contra a antecipação do plantio da soja por entender que a medida tomada pelo Mapa, por meio do Ofício n° 186/2023/DSV/SDA/MAPA, coloca em risco a principal cultura agropecuária do Estado”. Com o posicionamento, a Aprosoja/MT abre embates contra o Mapa e com a entidade coirmã, a Associação Mato-grossense do Produtores de Algodão (Ampa), que foi quem solicitou à esfera federal a antecipação do semeadura da oleaginosa, como forma de ampliar a janela de plantio do algodão, assegurando um maior período sob o regime de chuvas.
Mato Grosso é o maior produtor nacional de soja, milho, algodão e nessa safra, a 2022/23, deve colher recorde de mais de 100 milhões de toneladas.
A Aprosoja/MT, narra em nota, que no dia 11 deste mês a Ampa enviou ofício ao Mapa solicitando autorização de cultivo excepcional de soja em Mato Grosso, independente do período de Vazio Sanitário e do calendário de semeadura, a partir de 1º de setembro de 2023. “Considerando que o Mapa, por meio do Ofício nº 186/2023/DSV/SDA/MAPA datado de 16/08/2023, atendendo a solicitação acima da Ampa, manifestou concordância com a autorização com a finalidade de cultivo excepcional de produção comercial de soja no estado do Mato Grosso, a partir do dia 1º de setembro ou seja, ainda durante o período de vigência do Vazio Sanitário estabelecido para esta unidade da federação, para a safra 2023/2024”.
Conforme o presidente da entidade, Fernando Cadore, o Mapa orienta a avaliação conjunta entre o setor produtivo e as instituições oficiais de Defesa Agropecuária do Estado do Mato Grosso com relação à antecipação do período de Vazio Sanitário e, consequentemente, do calendário de semeadura de soja no estado de Mato Grosso a partir das próximas safras.
“É com surpresa e afrontamento aos seus mais de 8 mil associados que a Aprosoja/MT recebeu a informação do ofício nº 186/2023/DSV/SDA/MAPA. Isto porque, independentemente das recentes discussões acerca do calendário do plantio da soja no Estado, para esta Associação e seus associados, o período do Vazio Sanitário da soja de 90 dias, sempre foi sagrado, e considerado medida mais eficaz contra a proliferação da ferrugem asiática nas lavouras de soja no Estado, totalmente em consonância com o posicionamento da Embrapa”.
Conforme Cadore, a antecipação se deu sem nenhum argumento técnico substancial, nem por parte da Ampa e nem por parte do Mapa. “Nem a Embrapa foi consultada. Essa decisão acolhida pelo Ministério vai de encontro a recente portaria SDA/MAPA Nº 865, DE 2 DE AGOSTO DE 2023, que Institui o Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja – Phakopsora pachyrhizi (PNCFS) no âmbito do Ministério da Agricultura e Pecuária, a qual em seu Art. 7º, § 2º, define que a Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e Pecuária, na condição de Instância Central e Superior do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária, que lhe confere o inciso II do Artigo 22 do Decreto nº 11.332, de 2023, estabelecerá anualmente, em ato normativo próprio, os períodos de Vazio Sanitário em nível nacional, com pelo menos 90 (noventa) dias sem a cultura e plantas voluntárias no campo”.
Ainda conforme referida, como cita a Aprosoja/MT, portaria em seu Art. 7º, § 3º, os períodos de Vazio Sanitário serão estabelecidos com base em dados de pesquisa científica, do monitoramento da praga na safra anterior, nos resultados dos ensaios de eficiência de fungicidas, nas condições edafoclimáticas, entre outros
”Pergunta-se, para esse plantio excepcional de soja, solicitado pela Ampa, o qual invade o período de Vazio Sanitário já estabelecido pelo estado de Mato Grosso, foi realizada pesquisa científica que o embase? A Embrapa foi consultada? Os riscos de proliferação da ferrugem asiática ante tal medida foram mensurados?”, indaga a entidade.
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SOJA X ALGODÃO – Segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o Valor Bruto da produção (VBP) da agropecuária projetado para 2023 será de R$ 201,48 bilhões, sendo a produção de soja por 50,41% deste valor ante 12,45% representado pela produção de algodão.
Em relação à área de produção, a soja representa mais de 12 milhões de hectares no Estado ante 1,2 milhão de hectares de algodão. “Desta forma, a medida tomada pelo Mapa coloca em risco a principal cultura agropecuária do Estado”.
OFÍCIO AMPA – O pedido da entidade se baseia em pesquisas agroclimáticas sobre o histórico de chuvas em Mato Grosso nos últimos 10 anos, que aponta o aumento gradativo as chuvas em setembro, podendo ser esse período considerado a melhor época de plantio à soja.
Ao antecipar a soja, os produtores de algodão ganham mais tempo para plantar – ampliam a janela -, podendo também fazê-lo mais cedo, aproveitando o período de chuvas no Estado. Mato Grosso tem como tradição agrícola plantar a soja como cultura se primeira safra e na segunda safra é a vez do algodão e do milho. Então, a soja super precoce e precoce, que começa a ser colhida ainda em dezembro, já abre hectares para o cultivo de segunda época.
Conforme o ofício, o pedido da Ampa é uma forma de ação antecipada sob a perspectiva de mitigar risco climático na cultura do algodão, como exemplo um eventual corte das águas no final de março e começo de abril, fato já registrado pela cultura no ano passado, que reduziu produtividades do algodão mato-grossense nas suas diversas regiões de plantio.
PROIBIÇÃO – O Vazio Sanitário é o período de ausência total de plantas vivas de soja (com exceção de áreas de pesquisa e produção de semente genética). Essa estratégia é usada para controlar pragas e doenças, e é reforçada pela Instrução Normativa Nº5, de 14 de março de 2014. O Vazio Sanitário da Soja se iniciou em 15 de junho e segue até o dia 15 de setembro, em Mato Grosso, visando o controle do fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem asiática da soja. Essa doença pode causar perdas de até 90% da lavoura, e os custos do controle ultrapassam R$ 2 bilhões por safra.