O Grupo Petrópolis, que produz as cervejas Itaipava, Black Princess e Cacildis, entrou em recuperação judicial. No pedido encaminhado à Justiça do Rio de Janeiro na última segunda-feira, a companhia afirma ter dívidas em aberto estimadas em cerca de R$ 4,2 bilhões, das quais R$ 2 bilhões, seriam derivadas de operações financeiras e de mercados de capitais, e R$ 2,2 bilhões com grandes fornecedores. Nessa última, haveria também operações de risco sacado.
A administração judicial caberá à Preserva-Ação Administração Judicial e aos escritório de advocacia Zveiter, ambos do Rio de Janeiro e que também atuam no caso da Lojas Americanas.
A Petrópolis afirma não ter um passivo trabalhista relevante, nem dívidas expressivas com microempresas ou empresas de pequeno porte.
O Grupo Petrópolis teria pedido urgência na validação da análise com objetivo de evitar o vencimento de uma parcela de R$ 105 milhões de uma dívida financeira. A 5ª Vara Empresarial da Justiça do Rio de Janeiro deferiu uma cautelar referente à solicitação, no dia seguinte, terça-feira.
O pedido foi apresentado sob alegação de que a referida parcela poderia comprometer o caixa e as operações do grupo de forma imediata. A companhia alega queda nas vendas e uma “alta exponencial” da taxa Selic, que hoje está em 13,75%. Esse contexto teria levado ao “imediato encarecimento do serviço da dívida”.
Ainda de acordo com a solicitação, o aumento dos juros básicos teria gerado impactos de R$ 395 milhões por ano no fluxo de caixa do grupo. O valor da dívida total, acima de R$ 4 bilhões, no entanto, foi atribuído pelos advogados da cervejaria até a companhia publicar a lista detalhada de credores.
Além da recuperação judicial, a Petrópolis também pediu a concessão de tutela cautelar para suspender pagamentos já agendados para os próximos dias e semanas, bem como a liberação imediata desses valores, e para proibir a retenção de recebíveis futuros.
Segundo números apurados, a cervejaria previa ter que pagar, nas próximas semanas, R$ 215,7 milhões ao banco Santander, R$ 109,3 milhões ao Fundo Siena, R$ 47,5 milhões ao Daycoval, R$ 9,2 milhões ao BMG e R$ 1,4 milhão ao Sofisa.
Os representantes da Petrópolis escreveram no pedido encaminhado à Justiça na segunda que o ajuizamento urgente foi necessário porque uma parcela bullet (quando os juros são cobrados de uma vez ao fim de um contrato) de R$ 105 milhões vencia naquele dia.
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“Seu inadimplemento provocará o vencimento antecipado das demais operações existentes com a casa bancária, resultando na pronta liquidação dos recursos travados na conta vinculada e tentativa de apropriação dos recebíveis do Grupo Petrópolis que irão ingressar na referida conta nas próximas semanas”, diz o pedido.
A Petrópolis afirmou que sua crise de liquidez vem se agravando há cerca de 18 meses, quando registrou drástica redução de receita. De 31,2 milhões de hectolitros (1 hectolitro equivale a 100 litros) vendidos em 2020, a companhia fechou 2022 com 24,1 milhões de hectolitros comercializados, e 2021, com 26,4 milhões.
Além da Itaipava, o grupo fabrica e distribui as cervejas Petra, Cabaré , Black Princess, Crystal, Lokal, Weltenburger, Brassaria Ampolis (com os rótulos Cacildis, Biritis, Ditriguis e Forevis). O portfólio inclui também as vodcas Blue Spirit Ice, Nordka e Cabare Ice, os energéticos TNT Energy Drink e Magneto, o refrigerante It!, o isotônico TNT Sports Drink e a água Petra.
A juíza substituta Elisabete Franco Longobardi, ao antecipar os efeitos da recuperação judicial, afirmou que a companhia demonstrou a urgência no pedido, uma vez que o grupo é “constituído por incontáveis empresas com grande relevância nacional”.