Cada vez mais no comando das despesas da casa, as mulheres são hoje predominantemente protagonistas nas finanças das famílias brasileiras, como mostra a pesquisa “A Relevância das Mulheres nas Finanças Brasileiras”. Entre as várias funções exercidas, além do trabalho dentro e fora do lar, elas lideram o pagamento das contas básicas, a organização com o dinheiro em geral e a regularização de pendências financeiras, como aponta o estudo realizado pelo Instituto Opinion Box, a pedido da Serasa.
De acordo com a pesquisa, que ouviu 2.131 mulheres de todas as regiões do país, 93% das mulheres participam ativamente nas finanças das famílias. O número representa um acréscimo de 5 pontos percentuais em relação à pesquisa semelhante realizada em 8 de março do ano passado para marcar o Dia Internacional das Mulheres. Desse número, 32% delas atuam como as principais responsáveis pelo provimento da casa.
A psicóloga Valéria Meirelles acredita que essa tendência se deve às mudanças no perfil e no comportamento do público feminino, cada vez mais independente sob o ponto de vista financeiro. “Casadas, solteiras, separadas, com ou sem filhos, hoje as mulheres se lançam sem medo no mercado de trabalho e assumem controle sobre as suas próprias finanças”, diz Valéria, doutora em Psicologia Clínica com ênfase em Psicologia do Dinheiro.
Valéria percebe “maior visibilidade e relevância” das mulheres no aspecto econômico, deixando no passado o tempo em que dinheiro era assunto de homem. “O valor da mulher nas finanças de casa sempre existiu, mas era algo interno, associado ao que chamamos de ‘economia do cuidado’. Mesmo sem gerar renda, elas produziam o trabalho de cuidar da casa e, dessa forma, economizavam em despesas, como alimentação, limpeza e outras”, explica. “Mas não eram reconhecidas como líderes do processo”, completa.
Em conformidade aos dados revelados pela pesquisa sobre A Relevância das Mulheres nas Finanças Brasileiras, o público feminino constitui a maioria entre os consumidores que negociam dívidas na plataforma Serasa Limpa Nome, a maior do país: em janeiro, as mulheres foram responsáveis por 55,45% do total de quitações.
DESIGUALDADE – Nos últimos 10 anos, houve uma redução na diferença entre salários pagos às mulheres e aos homens. O índice que mede a paridade salarial passou de 72 em 2013 para 78,7, em 2023. A paridade de gênero é medida em uma escala de 0 a 100, sendo que quanto mais próximo de 100, maior a equidade entre mulheres e homens.
Os dados estão no levantamento “Mulheres no Mercado de Trabalho”, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) a partir de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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O estudo também revelou que a participação feminina em cargos de liderança passou de 35,7% em 2013 para 39,1% em 2023. O índice de empregabilidade das mulheres apresentou evolução entre 2013 e 2023, passando de 62,6 para 66,6, respectivamente, crescimento de 6,4%.
Os resultados do levantamento indicaram que as mulheres têm mais escolaridade que os homens: enquanto elas têm, em média, 12 anos de estudo; os homens têm 10,7 anos.
O tempo dedicado à chamada jornada de trabalho reprodutiva, ou seja, aquela que envolve as atividades domésticas e de cuidados com familiares, também é maior entre as mulheres. No caso das pessoas empregadas, esse tempo foi de 17,8 horas semanais para mulheres e de 11 horas para homens em 2022. Entre os desocupados – desempregados e pessoas em busca de emprego –, a diferença é ainda maior: as mulheres exercem 24,5 horas semanais de trabalho e os homens, 13,4 horas.
Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, apesar da redução das diferenças entre gêneros da última década, é preciso continuar avançando e rápido.
LEGISLAÇÃO – Em julho do ano passado, o governo federal sancionou uma lei que garante igualdade salarial entre homens e mulheres e estabelece medidas para tornar os salários mais justos, aumentando a fiscalização contra a discriminação e facilitando os processos legais para garantir igualdade salarial.
Com a nova lei, empresas com 100 ou mais funcionários devem fornecer relatórios semestrais transparentes sobre salários e critérios de remuneração. Esses relatórios devem conter informações que permitam comparar salários e remunerações entre homens e mulheres de forma objetiva.
Caso haja alguma irregularidade, serão aplicadas punições administrativas e os processos legais para corrigir a desigualdade devem ser facilitados.
Também foram instituídos canais para denunciar o descumprimento da igualdade salarial por parte de empresas e entidades em geral. As pessoas podem encaminhar os casos por meio de um portal do Ministério do Trabalho ou pelo telefone: Disque 100, Disque 180 ou Disque 158.