Setor imobiliário deve crescer ainda mais com medidas econômicas e redução de juros, pelo menos essa é a perspectiva do Sindicato das empresas de compra, venda, locação e administração de imóveis residenciais, comerciais e condomínios de Cuiabá e Várzea Grande (Secovi MT).
Atualmente, o setor imobiliário é um dos principais responsáveis por movimentar a economia nacional. Com geração de empregos em diversas áreas, especialmente com mão de obra não qualificada, o ramo imobiliário além de si próprio, também incentiva e muito outras áreas como o comércio de bens e tecnológicos, já que ao adquirir uma casa ou apartamento, o próximo passo é mobiliar aquele ambiente até que ele se torne um lar para a família residir.
Pensando na importância do setor, o MT Econômico entrevistou o presidente do Secovi MT, Marco Pessoz, para falarmos sobre as principais dificuldades da área e as perspectivas para os próximos anos.
Mais cedo neste ano, o Secovi disponibilizou um estudo sobre o desempenho do setor imobiliário no ano passado, em Cuiabá e Várzea Grande. Foi observado que embora as vendas tenham aumentando na cidade vizinha (14,93%), a capital mato-grossense teve uma retração de -4,32%.
O presidente da Secovi explica que o monitoramento do setor imobiliário de Cuiabá ocorre desde 2015, já Várzea Grande começou a ser analisada a partir de 2020. “Várzea Grande pegou já o ‘boom’, a retomada do crescimento. A gente não tem as informações anteriores”, esclarece Pessoz.
O nível de transações imobiliárias vem aumentando nos últimos anos em ambas as cidades, em 2017 por exemplo, era um total de 8.415 imóveis transacionados e em 2022, esse número foi para 10.510. Apesar de não aparentar ser um aumento considerado, é importante destacar que em 2022, as pessoas estavam com certo receio de realizar compras altas já que além da transição governamental, o país também estava passando por uma recuperação econômica após a pandemia de Covid-19.
Em 2021, por exemplo, os imóveis transacionados somaram 11.910, já que as pessoas estavam deixando de investir na bolsa de valores e querendo aplicar o seu dinheiro em um local mais seguro, como um imóvel.
Aumento das vendas de imóveis horizontais
Outro fator que foi observado durante o período pandêmico, foi a preferência das pessoas a voltar a morar em casas. Especialmente por conta do período de isolamento, a necessidade de ter mais espaço, um quintal ou um jardim, fez com que as pessoas abdicassem de apartamentos próximos do centro e optassem por terrenos, seja em condomínio ou bairros.
“A gente percebeu também um número maior de vendas horizontais, as pessoas estão buscando morar em casas. Seja em condomínio fechado ou casas de rua (bairro). Por quê? Por causa dessa liberdade”, Marco também aponta a preferência das pessoas de ter vizinhos não tão perto, o que é impossível quando se mora em apartamento.
“Tem pessoas que ficaram com muito medo de dividir o elevador, você morar num local subindo diariamente com outras pessoas [num ambiente fechado]. Foi um momento muito difícil, principalmente na pandemia”, esclarece.
A contra partida é que as vezes para conseguir uma boa casa com um preço acessível, é necessário que o comprador dê uma afastada do centro da cidade, aí nesse caso, os apartamentos são mais vantajosos pela localização.
Mas como tudo é uma questão de adaptação, com os prédios não seria diferente. Após a pandemia, cresceu a necessidade de maior contato social, dessa forma as construtoras pensam e planejam os seus empreendimentos com mais áreas de convívio compartilhado.
Juros e medidas econômicas
Medidas do atual governo tentam estimular o setor de habitação, tanto na esfera federal como estadual deve haver incentivos, segundo já anunciado pelo presidente Lula e governador de Mato Grosso, Mauro Mendes. A construção civil e vendas de imóveis gera grande número de emprego e renda, além de estimular outras cadeias econômicas do comércio e serviços. O programa Minha Casa Minha Vida retomou com reformulação à classe com menor renda, porém existem outros desafios pela frente para aquecer de vez a economia nessa área.
Um dos principais desafios para movimentar o setor imobiliário é conter a alta dos juros, já que a Taxa Selic, que na época da pandemia chegou a 2% e o financiamento imobiliário reduziu para até 4,85% ao ano teve escalada nos últimos dois anos, chegando ao atual patamar de 13,75% ao ano. Isso faz com que o giro de comercialização fique menor, apesar das vendas terem melhorado nos últimos meses.
O crédito habitacional hoje em dia está praticamente o dobro em relação ao período pandêmico, que reduziu para 4,85% ao ano.. Em 2023 o financiamento imobiliário está entre 8,99 a 11,5% nas instituições financeiras.
Retração Minha Casa Minha Vida
De acordo com dados da Abrainc e conforme matéria já publicada pelo MT Econômico, no ano passado, as casas populares tiveram retração nas vendas. Um fator que pode ser visto seja pela perda do poder de compra da classe trabalhadora – devido à desvalorização do real ou a localização do empreendimento. Outro fator que dificulta tanto ao comprador quanto às construtoras é o custo do terreno, como aponta Pessoz.
“Nesses últimos anos, houve um aumento do custo dos terrenos, um aumento expressivo do material de construção e mão de obra, como você vai conseguir construir uma casa com um custo que não fecha a conta para o empresário? Qual a sua tendência? O que é errado? É você fazer o empreendimento muito distante”, explica o presidente da Secovi.
“Isso fica muito ruim para o trabalhador, imagina você acordar 2 horas antes porque você está a 20, 30 quilômetros do seu local de trabalho”, ressalta.
Imóveis distantes e vazios urbanos
Em Cuiabá hoje, existem diversos bairros populares que estão afastados do centro da cidade, o que leva o trabalhador a ter que acordar bem mais cedo, ficar até uma hora ou mais dentro do transporte público – muitas vezes em pé, já que os ônibus da capital sofrem com superlotação. Além de recursos como creches e escolas demorarem a chegar nesses novos bairros. Todos esses fatores fazem a pessoa desistir de ter a casa própria e optar a ficar morando de aluguel, em um bairro que já esteja melhor estruturado.
“Temos casos no Brasil de empreendimentos que foram construídos e mesmo doando as casas, as pessoas não foram! Porque era tão distante e tão ruim o transporte que as pessoas pensaram: ‘prefiro ficar em uma favela e alugar um barraco, do que eu morar em uma casa boa, mas em um bairro tão distante e tão ruim que meus filhos não terão acesso a escola, minha esposa não terá acesso ao trabalho e eu demorar duas horas para ir e voltar’”, de acordo com relato do presidente em relação ao mercado, essa logística causa um desgaste na vida da pessoa. Já que ela terá que passar muito tempo no trânsito, aquilo vai causar diversos conflitos na vida dela.
Pessoz conclui dizendo que esses empreendimentos precisam ser melhor pensados para quem vai habitar eles. “É importante definir onde que esses empreendimentos estão sendo construídos e qual a distância o trabalhador terá que deslocar da sua casa ao trabalho e vice-versa”, encerra.
Atualmente, em Cuiabá e Várzea Grande, não é incomum encontrar vazios urbanos. Isso porque, os terrenos quanto mais próximos do centro, mais caros e para o empresário não é viável financeiramente realizar um empreendimento desse porte, com os subsídios disponibilizados pelo governo nessas áreas.
Para conferir a entrevista completa, basta clicar no link abaixo: