Durante a capacitação “Proteção e Defesa Civil, Plano de Contingência”, promovida pelo Tribunal de Contas de Mato Grosso (TCE-MT), o principal alerta foi feito pelo americano Michael Hennessey, especialista sênior do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Segundo ele, o Brasil, assim como outros países da América Latina e Caribe, ainda mantém uma cultura reativa, atuando na maioria dos casos, após os desastres naturais, quando o ideal seria investir em prevenção. “Isso precisa mudar”, enfatizou.
Segundo entrevista ao MT Econômico, Hennessey destacou que os investimentos em resiliência são financeiramente mais vantajosos, mas ainda enfrentam resistência por parte dos gestores públicos, que receiam a falta de uso imediato ou de retorno visível. “Mesmo com benefícios comprovados, muitos governantes hesitam em investir, pois só percebem a gravidade dos riscos quando já foram atingidos”, explicou.
Ele ressaltou que o BID possui um protocolo acelerado de apoio após a decretação de situação de emergência. “Inicialmente, enviamos equipes técnicas para avaliar os danos e identificar as áreas mais vulneráveis. A partir disso, o governo pode apresentar um projeto de recuperação. Foi o que ocorreu recentemente no Rio Grande do Sul”, relatou. Segundo o especialista, esse projeto mobilizou entre R$ 3 bilhões e R$ 5 bilhões, com a participação de outros bancos de desenvolvimento, em ações coordenadas nas áreas de infraestrutura viária, saneamento básico e saúde.
Nova postura do TCE-MT, mais apoio, menos burocracia
Maurício Munhoz, consultor técnico da presidência do TCE-MT, destacou a mudança de postura institucional promovida sob a liderança do conselheiro Sérgio Ricardo. “O Tribunal está deixando de ser apenas um órgão fiscalizador e passando a atuar de forma mais colaborativa com os municípios. Esta capacitação é prova disso”, afirmou.

Munhoz explicou ao MT Econômico que o evento foi estruturado com foco em planejamento e soluções práticas, utilizando diversas fontes de financiamento, como BID, BNDES e Caixa Econômica Federal. Ele também apontou os consórcios intermunicipais como alternativas eficientes para que pequenos municípios acessem recursos e desenvolvam soluções conjuntas, especialmente em áreas como gestão de resíduos sólidos.
“O desafio é antecipar desastres, o que exige atuação integrada entre municípios, estados e a União. Precisamos estar preparados para eventos extremos, como já indicam os sinais da própria natureza”, completou.
Parcerias institucionais trazem soluções concretas
Daniela Baccas, chefe do Departamento de Sustentabilidade do BNDES, ressaltou a relevância dos encontros promovidos pelo TCE-MT. Ela apresentou as principais linhas de financiamento voltadas à mitigação e adaptação às mudanças climáticas, com destaque para o Fundo Clima, que apoia desde obras de drenagem urbana até a requalificação de áreas vulneráveis. “O custo de prevenir é sempre menor do que o de remediar”, alertou.
Daniela destacou que o banco possui estratégias específicas para o desenvolvimento de infraestrutura urbana resiliente, cidades inteligentes e justiça climática. Ela também mencionou o programa Investe Impacto, que visa apoiar estados e municípios na estruturação de projetos multissetoriais com foco na sustentabilidade.

Representando a Caixa Econômica Federal, João Henrique Cruz de Oliveira, superintendente em Mato Grosso, apresentou as ações da instituição diante de desastres naturais. Ele observou que 92% das habitações de Mato Grosso são financiadas pela Caixa, o que reforça o papel do banco no apoio às famílias afetadas. “Oferecemos opções como o saque calamidade do FGTS, suspensão de parcelas de financiamento, isenção de juros e renegociação de dívidas para pessoas e empresas atingidas”, destacou.
João Henrique também alertou para a baixa adesão dos municípios de Mato Grosso a linhas federais de financiamento, como as do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que incluem obras em áreas como drenagem, contenção de encostas, mobilidade urbana e saúde pública. “Estamos prontos para apoiar, mas é essencial que os gestores estejam atentos às oportunidades e realizem a adesão às portarias disponíveis”, concluiu.
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